segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bate-papo 4

ana: pq?
caio: por diversas razões.
21:46 ana: me diga
caio: (Na verdade nem sei se é bom eu falar essas coisas aqui, assim)
21:48 E não entendo a razão da sua "curiosidade".
De um certo modo, penso que devo me proteger
21:53 ana: não é curiosidade
é pq queria entender tb
mas entendo se você nao quer contar
21:54 caio: não faz mal que você saiba o que se passou, mesmo porque, de concreto mesmo, nada aconteceu...
ana: gostaria de entender o seu lado
pq estou tentando esclarecer o meu
21:55 caio: eu sei
vc não quer se arriscar a dizer nada sem ter certeza sobre o que eu vivi, o que senti. Ainda uma vez, quer me arrancar uma confissão...
21:56 ana: nao é nada disso
21:57 caio: rs, vc é ótima, ana...
então tá
21:58 vc leva jeito para detetive
psicanalista
ou escafandrista,
mas eu juro que já fui o mais longe que podia
21:59 fiquei muito exposto
entende? mais uma vez me sinto como... uma cobaia.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Bate-papo 3

caio: eu estava quieto no meu canto, você sabe, fazendo o meu trabalho. tinha cá comigo o meu segredo, e nem doía, porque desde sempre, desde a primeira vez em que eu te vi, eu sabia que aquilo teria de permanecer ali,
21:36 muito bem guardado, até de mim,
mas você fez de tudo para que eu me abrisse...
21:37 Juro que eu mesmo não tinha plena consciência de que sentia... Ou então estava tudo muito bem recalcado mesmo.
21:38 E não digo que ainda não vá um pouco de dor em falar nisso, agora, mas, enfim, sobrevivi.
É isso.
ana: e qual era o segredo?
caio: ah que pena
não faça isso
não posso mais que isso, entenda
ana: please
21:39 queria entender
caio: acho que já entendeu
21:40 mas era vc quem queria falar...
ana: sim
enfim
ainda vou querer saber
a questao é
dependendo do tipo de relação que estava acontecendo
21:41 existiriam outras pessoas envolvidas
caio: entendo
21:42 ana: agora me conta
caio: o q?
21:43 ana: o segredo
21:44 caio: olha, ana, se estiver precisando alimentar a sua vaidade, pode fazê-lo, não me importo. Mas se estiver de fato preocupada comigo, algo em que não creio, não fique. Também não tema nenhum tipo de atitude minha em seu prejuízo, você sabe que, por índole, eu seria incapaz. Bom, ao final, acho que posso dizer que ao menos você me conhece um pouco mais agora.
21:45 Mas não me faça ir além disso, por favor, considere o fato de que a minha posição é muito menos confortável que a sua.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Bate-papo 2

caio: rsrs
21:24 acho que eu gostaria de ouvir vc, sim...
mas não se sinta obrigada a nada, por minha causa
21:26 ana: bom
vou tentar ser direta
21:27 eu nao tive a intenção de te machucar
caio: sim
ana: e nao achei ruim o que aconteceu
o problema foi a consciencia depois por alguns fatores que vc talvez desconheça
21:28 caio: claro
21:29 ana: esses fatores fizeram eu ficar numa situação de indecisao
pq nao sabia se eu te contava
ou se pra vc isso nao fazia diferença
21:30 e acabei nao fazendo nd
caio: certo. claro que "diferença" sempre faz.
eu não consigo ser uma pessoa indiferente, ou então não teria entrado nessa,
mas algumas coisas estão acima das diferenças - ou parecem estar, de um certo ponto de vista,
21:31 que pode ser um ponto de vista míope, embaçado pelas emoções...
ana: entendo
21:32 tem alguma coisa q vc gostaria de me perguntar
q vc tem duvida?
caio: sim, claro:
o que é que vc não sabia se me contava,
exatamente?
ana: bom
21:33 antes deixa eu te fazer uma pergunta
caio: faça
ana: o q vc define que aconteceu entre nós?
caio: olha, ana, eu não tenho por que tentar enganá-la,

já que não consigo enganar a mim mesmo...
21:34 eu vou tentar resumir, ao meu modo
ana: ok
21:35 otimo

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Bate-papo 1


ana: olá, boa noite
21:01 caio: boa noite
ana:  :)
21:02 ocupado?
caio: não





5 minutos
21:08 caio: só olhando mensagens
ana: han
caio: tudo bem com vc?
21:09 ana: tudo bem sim. faz tempo que nao nos falamos por aqui ne?
caio: é verdade
21:11 ana: eu queria clarear as coisas mas nem sei como
huahua
21:12 caio: hum...
21:13 ana: faz diferenca nao ne?
:)
21:14 caio: depende.
ana: de que?
21:15 caio: preciso saber ao certo a que é que você se refere, para dizer se faz diferença
ana: han

nós paramos de conversar
21:16 acho que foi meio mal entendido
e eu nunca consegui explicar o q passou comigo
e nunca ouvi de vc tb
caio: ah sim
21:17 onde exatamente foi o mal entendido?
21:18 ana: talvez meu
nao se
sei*
21:19 tenho que estruturar minhas ideias
mas nem sei como começar
21:20 caio: e pq vc está preocupada com isso, agora?
ana: sempre estive preocupada com isso
mas sempre adiei

caio: e acha que precisa falar?
21:21 ana: vc acha que nao?
21:22 caio: a pergunta era uma pergunta mesmo, não uma pergunta-resposta.
formulo melhor: vc sente vontade de falar sobre isso?
necessidade?
21:23 ana: bom... da minha parte seria interessante. Mas aceito outras propostas
e quanto a você?

sábado, 22 de dezembro de 2012

O humor da matriarca

- É, mãe, nós vamos invadir a sua casa...
- Vem, minha filha, venham todos... Agora eu tenho um peito só, mas ainda dá pra amamentar todo mundo!
- Kkkkk.

Vaidade

- Mamãe, a madrasta da Branca de Neve chamou o poder da Vaidade!
- E a vaidade é o quê?
- É um espelho que muda de cara.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Flutuar

Alexandre Semenov: Cyanea Capillata.
 
- Mamãe, se ao invés de andar, você flutuasse, as suas costas não doíam!
- É verdade!

Caldinho

- Como é que o neném vive? Na barriga da mãe tem caldinho?

O coração 4

- Mãe, se o coração bater para trás, ele machuca as costas?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Aula de Redação

Tamancos de Gaughin.
 
Use somente as suas próprias palavras.
Use as suas próprias palavras.
Use as próprias palavras.
Use as suas palavras.
Use as palavras.
Use palavras.
As palavras.
Palavras.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

silêncio

Caspar David Friedrich: O viajante sobre o mar de névoa.
 
 
 
 
 
 
silêncio






segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Coisas velhas

- Mãe, a gente não gosta mais dos brinquedos da escola.
- Não? E quais são os brinquedos da escola?
- Lá só tem lego e jogo da memória. A gente queria brincar com uma coisa diferente.
- É? O quê, por exemplo?
- As caixas de papelão que tem lá na escola.
- Peçam à professora.
- Nós já pedimos, ela disse que a gente só gosta de brincar com coisas velhas.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Obediência

Candido Portinari: Grupo de meninas.
 
- Está bem, mamãe, eu vou te obedecer todo dia. Você me obedece dois dias?

Massinha

- Ai, não gostei, esse biscoito tem cheiro de massinha!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Assalto

De trás da porta me salta um super-homem de um metro:
- Maus ao alto!
- O quê, filho?
- Ô, desculpe: - Mães ao alto, kkk...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

ZZZip

Quase dormindo, após uma hora de concentração:
- Mãe, eu posso cantar uma música pra te animar?
- Ahn? Pooode.
- E eu posso dançar também?
- Pooode.
- É assim ó (de pé na cama, mãozinhas juntas sobre a cabeça, formando um triângulo, as pernas vão para a frente e para trás em passos curtos e inacreditavelmente rápidos para uma meia noite): "Zip zip zá, lá vem o tubarão, zip zip zá, corre mais que o caminhão". - Se animou, mamãe?
- Não muito, eu tenho sooono.
- Então eu vou cantar uma outra, mais rápida!...

Volteios

- Mãe, por que a lâmpada não está desapagada?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Desejo (tradução)

Kate Macdowell: Escultura em cerâmica.


Eu te desejo a dor:
a mesma, a própria, a minha dor.

Hoje tenho todos os defeitos humanos:
desejo errado, desejo fraco, desejo mal,
contudo ergo contente a taça da crueldade.
Que outro modo haveria de dizer,
de que outro modo tornar-te humano,
tão subservientemente humano quanto me fizeste?

Eu te desejo a dor:
a mesma, a própria, a minha dor.
A criança boa que você criou,
a felicidade reprimida,
tudo deu em nada.

O teatro da bondade - tediosa representação -,
o trabalho em seu próprio favor:
tudo perdido.

Eu te desejo a dor:
a mesma, a própria, a minha dor.

(Livre-tradução da canção "Desire", do compositor canadense Fancy Share)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Carta aberta 40

Minha querida Andrea,

Ele é o pai do André, do Pedro, da Ana,
da chácara, da lavoura inteira...

É o pai da sua epilepsia, do meu lirismo:
enfermidade e loucura,
culpa que move o mundo...

É o pai do pai e da mãe de André - e da menina a caminho.
Do ventre seco, da corda suave dos seus braços envolvendo o meu pescoço,
às três da tarde...

É o pai da prisão sufocante, progenitor de toda a revolta,
sexo e poder, phármakon, formicídio,
esporro, porrada e porretada...

Das Brot des Patriarchen.

Beijos. Muitos. O bastante, mas nunca o suficiente.
Heitor.


 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Carta aberta 39

Heitor, Heitor, obrigada por ter me enviado o link.
Heitor do céu, ele é a cara do meu pai.
Heitor, o Raduan é a cara de Meupai.
Quando fecha os olhos, quando pisca, balançando a cabeça...
Deus me livre, ele é a cara de Meupai!
Nos movimentos - econômicos -, mais que nas fotos, ele é a
cara do meu pai!
Meupai também tem aquele humor sórdido, véspera do abandono,
um sorriso que é quase uma concessão a isso tudo: - Olá Mundo, eu te suporto!
Um beijo chocado.
Andrea.

Carta aberta 38

Rapaz, não fala em calor, não.
Descobri que não tenho resistência a isso.
Não consigo dormir, é um inferno!
O mundo está com cara de que vai acabar mesmo!
Afora isso, pegamos todos uma virose.
Ai, eu quero ver o Nassar em movimento.
Balada literária? Vou lá ver!
Beijos
Andrea.
 
 

Carta aberta 37

Andrea!
Eu estou com calor. Muito calor. Um pavor total.
Acho que desde que mudei para Londrina não via dias tão quentes assim.
Nessa semana a sensação térmica chegou a 41 graus.
O horror.
Mas além dessas lamúrias climáticas, está tudo bem.
Essa semana as férias começaram, mais tempo em casa para ler e escrever.
Olha, eu não sofro de tédio natalino. Não tenho muita coisa contra o Natal, não. Talvez o que me entedie e irrite um pouco seja a multiplicação de corpos nas ruas, nos shoppings, nas lojas, no bares, no mundo todo. O ser humano parece virar formiga, uma multidão de formiga zanzando por aí. Muita gente, eu acho...
Nos últimos 10, 12 anos, eu passei a esperar esse período de final de ano porque é o momento que tenho para encontrar a família, né. Dar um abraço nos meus e descansar, mesmo com as rusgas que apareçam, e família tem disso, não?
Você já viu o Nassar em movimento? Eu nunca tinha visto. E vi! Aqui (https://www.youtube.com/watch?v=bnBPznkNwt4), na Balada Literária, há algumas semanas.
Ele tá velhinho... e bonitinho!
Beijão!!!
H.

Carta aberta 36

Como vai você, Heitor?
Já se instalou o tédio natalino? Ou você não sofre disso?
Parece que há os eufóricos de Natal e os deprimidos do Natal.
Eu fui uma criança eufórica de Natal, cheia dessa falsa alegria, como é natural.
Ah, mas se é alegria, não pode ser falsa, você vai dizer. E se for falsa toda alegria, então já está valendo e, novamente, não há a alegria falsa.
Mas eu continuo achando que, se uma coisa precisa de tantas bolas coloridas, já é de se suspeitar...
Bom, na infância era um cheiro de nozes e passas e uns presentes que meu pai recebia da Vale, distribuídos por faixa etária: os irmãos mais velhos ganhavam dominó, bingo ou vareta; eu, a intermediária, recebia uma boneca dura, ou então uma máquina de costura de plástico transparente que tinha um cheiro ótimo. (Ah se soubessem que o meu pesadelo era o som estridente e incessante da máquina de costura da minha mãe...)
Na adolescência tive muitos amigos que sofriam profunda e verdadeiramente o Natal - seriam uma espécie de cristãos ao avesso -, porque a data fazia com que lembrassem a família desfeita, a ideia de família, a ilusão perdida etc.
Hoje não me dá nada.
Beijos,
Andrea.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A felicidade

Maxfield Parrish: Ecstasy.
 
- Você é feliz, Francisco?
- Sou, claro que eu sou!
- E você, Flora, é feliz?
- Eu não, mas quando a piscina está cheia e o tio me deixa pular sozinha, aí eu fico feliz.

Página

- Mãe, essa porta não parece uma página?
- !

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

lírica

Belchior: Autorretrato.
 
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio...

(Mário de Sá-Carneiro)

me toma nas mãos
me toma nas mãos
me toma nas mãos

mitômanas mãos

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ao truísmo

Paula Rego.
 
- A partir de hoje eu não faço balé. Eu não vou mais ao balé. A tia Rosana nunca mais vai me ver.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Aviso aos navegantes III

Van Gogh: Os girassóis.
 
Tudo realmente aconteceu. Mesmo o que foi inventado.
Qualquer dessemelhança com fatos ou pessoas reais é mera coincidência.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

mensagem sobreliminar

Arthur Bispo do Rosário.
 
venha
não vá
vá à

não
se
me dar

matar

Minúsculo

- Mamãe, eu aprendi a fazer o F com músculo!
- Rs.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Florisco

Gêmeos assim há meses.
 
 
- Eu acho que estou aprendendo a ler: no nome dele tem um cisco e no meu tem uma flor.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Educado

No restaurante, ao fim do almoço, Francisco anuncia, sem afetação:
- Mãe, eu quero ser um homem educado.
- Você já é muito educado, meu filho.
- Mas eu quero ser igual àquele moço ali.
(Na mesa ao lado almoçava sozinho um senhor de setenta anos, tão discreto e silencioso que eu nem mesmo o tinha percebido. Dir-se-ia a própria solitude).

Analfabeto

Kate Mcdowell: Soliphilia.
 
- Mãe, eu sou um malfabeto?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Carta aberta 35

Heitor, houve um acidente, sim.
Áurea - desta vez ao menos - não exagerou.
O desfecho sempre poderia ter sido mais trágico,
mas a perda resultante é uma lástima.
Segue sendo.
O meu abraço.
A.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Carta aberta 34

Ahhhhh, Dea!
Entendi, agora. Dei uma olhada no blog e o Anonymous tá "pê" da vida com a inexistência dessa dama frágil chamada realidade...
Tomara que o Hector beije bem mesmo, hein!? rsrsrs
Não encontrei o lap top e não faço ideia de onde posso ter deixado.
Estou te escrevendo de uma lan house
e já muito preocupado com o material que perdi, a maioria sem cópia,
o que me dá a estranha sensação de que nem sei ao certo o que perdi.
Beijos beijos,
Saudades,
H.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Carta aberta 33

Não sei, querido,
alguns heitores - digo leitores -
queriam que "você" fosse você.
As pessoas se sentem ofendidas com essa mentirada.
De um certo modo, somos todos toxicômanos de identidade.
(E onde estava o lap top?)
Beijos,
A.

Carta aberta 32

Andréia, Penha, como assim?
Me descobriram achando que eu existisse?
Mas como assim, se as palavras me deixaram e eu estou aqui espavorido sem abecedário?
E qual a chateação do mundo?
Beijos!
Heitor, o Braga.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Carta aberta 31

M, H, como vão?
Alguém acha/descobriu que vocês não existem.
Alguém pode/parece ter se chateado.
Vocês existem, sim? (Por favor, respondam, que nós mesmas já começamos a duvidar!)
Beijos,
Andrea, Andréia.

domingo, 25 de novembro de 2012

Carta aberta 30

Heitor,
você não imagina como é difícil eu me colocar no seu lugar.
Definitivamente, não sei imitar o seu estilo.
Seria mais fácil se você tivesse respondido ao meu último e-mail.
Ter de inventar absolutamente tudo me dá um cansaço quase divino.
Pode parecer, às pessoas que lêem este post, que você não existe,
sabendo-se contudo, como sabemos nós dois, que eu é que não existo.
Um beijo. Espero que encontre logo seu lap top.
Andrea.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Carta aberta 29


Era o Segundo Seminário "A Educação Estética", na PUC.
Valeu mesmo foi o minicurso sobre o leitor na ficção e na autobiografia,
com a Raquel Guimarães - muito jovem e muito arguta leitora de
Drummond, de Nava, de Graciliano.
E boa viagem pra São Paulo, então. Seus pais ainda moram em MS?
Beijos.
A.

Carta aberta 28


Que legal, Dea! Que evento e minicurso eram?
Também tenho essa sensação com viagem... de desautomatizar e ser mais imprevisível...
Ah, bem que eu queria te visitar logo logo. Mas antes de ir pra casa dos meus pais vou visitar minha vó e uma tia no interior de SP.
Estamos dando uma força porque outra tia faleceu em outubro, e era o sustentáculo da casa.
Obrigado pelas palavras sobre a dissertation!
Beijinhos,
H.

Carta aberta 27


Estou bem, Heitor. Passei a semana em BH, em Seminário.
Qualquer viagem é um pouquinho de paz, um descanso na loucura -
que me perdoe o Guimarães. Fiz um ótimo minicurso: como é bom ser,
de novo, aluna!
Você vem me ver no fim do ano? Deve vir um conhecido de BH passar o
réveillon. Venha também!
Olha: fique feliz com o corre-corre do final. Pior é o nosso caso,
aqui: houve greve e por isso o
próximo período (que seria o período passado) se iniciou dia 19!
Beijos. A.

Carta aberta 26


Dea, tô numa correria lascada aqui com atribuições de final de ano: provas, TCCs, trabalhos, fechamento de notas...

Você como está, querida?

Saudades.

Beijocas!
 
H.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Manu

- Mamãe, a Manu é linda, não é?
- É sim.
- Eu acho que ela gosta de mim!
- Ah, com certeza. E como foi que você descobriu?
- Ela desenhou um navio no meu caderno!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Soletrando

Flora, com a revista no colo:
- E... u... b... e... b... i.
(E logo depois mais rápido):
- E... u... b... e... b... i... E... u... b... e... b... i... Mãããe, eu li, eu bebi!

domingo, 18 de novembro de 2012

Vida de bailarina

Paula Rego.
 
Os que compram o desejo
pagando amor a varejo
vão falando sem saber
que ela é forçada a enganar,
não vivendo pra dançar,
mas dançando pra viver!


(Chocolate/Américo Seixas: "Vida de bailarina")

Três da tarde. Maria chora.

As lágrimas vão molhando o porcelanato e ela, enfim, lhes acha uma utilidade. Com o pé, empurra o balde de plástico. À noite, calcula quantos quilômetros caminhou por entre aqueles seis cômodos, conduzida pelo desinfetante.

Maria já deu duas voltas ao mundo sob o odor artificial da lavanda. Maria prende os cabelos no alto da cabeça. Semelham um espanador. Maria pinta os cabelos da mesma cor do espanador. Escreve na nota de compras, dependurada na geladeira: alho, bucha, batata, espanador. Maria penteia os cabelos como quem penteia o espanador. E se confunde com o lustre, a mesa de canto, o abajur, o aspirador de pó.

Marido saiu cedo, muito cedo, para o trabalho.

O abajur não acende mais, deu defeito. Marido chega tarde, não percebe que a luz se apagou. Maria brilha mais que o abajur com defeito. Maria desinfeta, Maria limpa, Maria arruma, mas a casa nunca está a contento. Maria está insatisfeita e a insatisfação é o seu último nicho de humanidade.

Maria elege responsáveis pela sua infelicidade. Maria não sabe mais a quem culpar. Marido sorri pelos cantos.

Ao meio dia Marido chega, irrepreensível, para o almoço. Marido esconde as mãos. Tem as costas caídas, os olhos baços, o fígado em frangalhos.

Piedade Maria não tem. Maria vive para os demais, como o milho vive para o frango, portanto a culpa da existência de Maria é deles. Ela quer juros e correções monetárias pela sua dor.

Marido não gosta de números. Marido gosta de nomes.

Maria quer governar o mundo, mas o mundo é um catre. Tranca, catraca, cárcere, calabouço. Maria se confunde. Maria teve um filho, porque um filho tinha de ser tido, tinha de ter sido. Maria tem um carro, porque um carro tem de ser tido.

Maria vai às compras, Maria confraterniza, Maria antipatiza. Maria afia as garras. Não pode mais usar biquínis. Maria luta contra a celulite. Maria tem o pé pequeno como o das gueixas. Nunca lhe foi permitido andar descalça. A filha também não anda descalça.

Marido não percebe, Marido não se importa.

Maria cozinha, Maria arruma, Maria passa. Maria organiza as gavetas, ordena as cuecas do Marido. A ordem vem de fora, alienígena, um meteoro. O amor é outra palavra. Maria já não ouve muito bem.

Maria compra lingeries, acende velas. Marido chega com hálito de cerveja, mas Maria não conhece o cheiro da cerveja. Não, Marido não bebe cerveja!

Marido desorganiza as gavetas, espalha copos pela casa. Marido vende, doa a televisão. A televisão não faz falta. Maria faz falta, como faz falta o sofá.

A criança rasgou o sofá. Maria castiga. Maria espancou um pouco a sua criança. Maria pensa como criança: mulher faz papel de mulher, Marido faz papel de Marido, criança faz papel de criança.

Marido rasga papéis. Marido escreve, escondido, lindas obscenidades. Maria empalidece diante de cenas de sexo. Maria é uma criança.

Às seis da tarde, Maria chora.

Marido se atrasa.

E Maria sabe, no fundo sabe, que a vida finda. Um dia, finda. Quando menos se espera, termina. Maria de repente se descobre mortal. Num átimo se vê entre os demais – todos mortais.

Maria morrerá.

Na geladeira perecerão os caquis. As gavetas, em breve, desordenadas. Só Marido, pleno de culpa, jamais restabelecerá a ordem interior. Jamais uma nova ordem, sem Maria, a faxineira, Maria, a arrumadeira, Maria, a babá, Maria, serviço bancário.

Marido dá dinheiro, Maria paga as contas.

Maria é uma santa. Marido geme na cama da vizinha. Marido tem vida dupla, de malabarista. Maria tem meia vida, de bailarina.

Maria deprime, Marido traz um presente. Maria fica contente. Por dias, fica contente.

Marido parece triste. Maria traceja tramas, Maria tem o dom das aranhas. Maria planeja a mortalha, mas o avesso do bordado traz um borrão.

Marido adoece, Marido se esforça, bate ponto às doze e às dezoito. Marido quer ser fiel. Marido definha. Cada culpa do Marido é uma vitória de Maria. Pena, Maria não tem.

Marido também morrerá.

Maria se procura, se acha, se sente vitoriosa. De repente entende que ninguém tem culpa. Aos poucos, Maria intui. A intuição é o seu forte, junto com o instinto materno, a fé em Deus, o amor eterno e os arranjos de Natal.

Maria intui que Marido é Marido e Maria é Maria. Não há nada que verdadeiramente a impeça de dar a volta ao mundo. Ela por vezes sente o influxo dos desejos, mas tem um protocolo a cumprir, até que a morte os separe. Maria é. Maria sabe que é, mas o que é mesmo que Maria é?

Marido bem sabe o que não é.

Maria tem medo. Ao erguer o tapete – o marido detesta tapetes –, Maria treme e lembra o muxoxo da mãe, fundo no quintal, numa terra distante, num tempo distante...

Maria não enxerga. Recorda apenas as lágrimas da mãe caindo na terra, suas fundas olheiras, a frágil imagem, fundida à do pai...

O pai desarrumava as gavetas...

E até a morte os separou.

Prefeito

- Mãe, não é que o Luiz Paulo perdeu?
- É verdade, rs.
- E o Luciano ganhou?
- Ganhou.
- Por que o Luciano é Rezende?
- É o sobrenome dele.
- E agora que ele ganhou, ele é só Luciano?
- Não, continua Rezende.
- E não é que ele não existe?
- Como assim? Existe, sim.
- Mas eu nunca vi o Luciano! Eu só vi a foto dele no muro. Onde ele mora?
- Não sei...
- Tá vendo? Eu vou pedir ao meu pai pra me levar lá na Prefeitura, pra ver se ele mora lá.

Mamadeira

- A partir de hoje eu não tomo mais mamadeira.
- Por quê?
- Porque eu sou homem.
- Então você tem de comer alguma coisa.
- Tá bom. Homem come o quê?

Mágico

Cândido Portinari: Menino com estilingue.
 
- Mãe, eu queria me vestir de mágico!
- Está bem. E você precisa de quê?
- De nada, eu só preciso de mim mesmo!

sábado, 17 de novembro de 2012

Céu nublado

- Mamãe, o sol está vestindo a roupa de passear!

Carta aberta 25

Heitor,
não estou certa de ter aqui o Reino dos Medas, para enviá-lo a você.
Também não acho que o encontre em sebo - não sei.
De todo modo, daremos um jeito para que você o leia.
Por que foi abjurado? Diz o Reinaldo que a ironia está ausente, e ela não pode faltar.
Beijos,
Andrea.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Carta aberta 24


Dea!
Fiquei chateado com o cacófato, não!
É que gosto da aspereza da língua quando a informação vem clara e precisa, mesmo quando surgem esses sons desencontrados das palavras.
Acho que a imagem do áspero vem do Guimarães, estive relendo o Grande sertão nas últimas semanas, por conta de aulas de Literatura Brasileira.
Mas na obra dele aparece outro teor, mais próximo da ideia de reflexão e ação: "quem mói no asp'ro não fantasêia"...
Estou muito a fim de ler esse livro do Reinaldo Santos Neves, procurarei por ele nos sebos.
Por que o Reino dos Medas foi abjurado?
Bateu muita saudade, também; agorinha mesmo, eu estava ali atrás do bloco C (bloco de Letras da universidade aqui em Cornélio) fumando um cigarro e me lembrei de você. Após dias muito secos e quentes, choveu bastante e a temperatura caiu, o céu limpou. Está uma tarde lindíssima aqui, o céu todo azul, dá pra ver os montes, sedes de fazendas, muito verde para os lados de Londrina. Aí achei tudo isso lindo e me lembrei de você. Que bom seria você ao lado, a gente proseando e contando histórias, dando risadas e olhando pras coisas.
Um beijo, Déa.
Heitor.

Carta aberta 23


Hei tor! Ficou chateado com o lance do cacófato? Espero que não!
Eu busco cacófatos quase que inconscientemente, mas também não
me importo, não. Deve ter soado antipático, escrevi depressa, no calor da emoção.

No mais, só chamam à atenção detalhes assim quando o texto é muito bom.
Olha outro cacófato ali: "e foi se tornando uma amiga". Rs.
A boneca russa é a matrioshka (não sei direito como se escreve), aquela
que tem uma dentro da outra, então usei a imagem para designar
surpresa. Estou fraca de palavras. Sim, até no áspero a língua é bela.
Isso é Guimarães ou Heitor?

O Reinaldo Santos Neves é um grande romancista. Há alguns meses fiz parte de uma banca de mestrado na UFES sobre a obra dele. O mestrando - Nelson Martinelli - é excelente e trabalha a autoficção. Esse livro que você cita, o primeiro,
foi abjurado pelo autor e agora está virando filme. Também não é, entre todos,
aquele que eu mais aprecio.
De repente muitas saudades. Quando é que vamos nos falar pessoalmente,
amigo querido?
Abraço,
Andrea.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Carta aberta 22


É verdade, Dea, dá uma boa "cacafonada" a expressão "crítica capixaba".
Mas sabe que não me incomodo muito com esses sons desagradáveis quando expressam um conceito, uma imagem...
Até no áspero a língua é bela, não?
Você começou como uma referência bibliográfica (li muito de você na UEL, em tardes compridas - acho que já lhe disse isso) e foi se tornando uma amiga.
Quer coisa mais gostosa que isso!?
Boneca russa é surpreendente?
Hein, você conhece um livro de 1971 chamado No Reino do Medas, de Reinaldo Santos Neves?
Ouvi falar dele por meio da adaptação ao cinema. A história se passa em Vitória.
Fiquei com vontade de ler/assistir.
Beijos!

Heitor.

Carta aberta 21


 
Como vai, Heitor? Seu texto da dissertação é primoroso, apaixonante, inteligentíssimo. Apesar do cacófato, achei curioso você me chamar de "crítica capixaba". É que nunca ouvi essa expressão, acredita? E chamou-me à atenção justo porque inédita. Daí se pode concluir muita coisa acerca do Espírito Santo, amigo, das dificuldades com que (ainda) trabalhamos aqui. Mas as coisas vêm mudando; aos poucos vêm mudando – e, às vezes, aos supetões! Quando em um texto, certa feita, nomeei o Evando Nascimento “filósofo baiano”, a ele também pareceu engraçado – com licença para a comparação. Muito elegante, ainda, o agradecimento, o lance de ser promovida de referência bibliográfica a amiga. Só você mesmo, Heitor! Sempre uma surpresa - boneca russa.
Beijo. Andrea.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Agradecimento

Francisco, fazendo xixi no jardim:
- De nada, plantinha, de nada!

domingo, 11 de novembro de 2012

traço (vestígios)


Kate Macdowell: Vênus.
 
A B.

e quando menos
se espera

- porque em vitória
muito sempre mais de tudo
se espera -

seu olho quase verde,
a tez quase branca,
o pelo quase negro

descobre meu medo
atrás das cortinas de fumaça.

um passo apenas adiante
e a minha febre
te devora.

esboço (riscos)

Arthur Bispo do Rosário.
 
A R.

por enquanto, cuido:
cactus na cristaleira,
crianças comendo tranquilas,
cabelos lisos e tintos.

de repente a crise,
o coma,
as cãs...

seu novo olho
suave de lince

rasga uma cortina
: belo horizonte.

quem, o que és
fica onde permaneces
(tautológica presença).

de longe a minha
tromba d'água passional
não pode, não deve,
não quer te demover.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sozinho

- Mãe, ontem eu me vesti sozinho, mas hoje eu desconsegui.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Guardião (entre irmãos)

René Magritte: Corujas.
 
- Vamos brincar de castelo, Francisco?
- Vamos, mas eu sou o guardião.
- Então eu sou a guardiã do guardião.

domingo, 4 de novembro de 2012

Poder

- Mamãe, hoje eu vou causar chuva!

Sempre

Portinari: Menino com pássaro (detalhe).
 
- Quantos anos eu vou fazer?
- Cinco.
- Dessa vez eu quero ficar com cinco anos pra sempre!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Finados

- Mãe, por que a gente não vai pra escola hoje?
- Porque hoje é feriado.
- É dia de quê?
- Dia dos mortos.
- E a gente não vai comemorar?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Surpresa

- Mãe, quando que eu vou morrer?

Retrocesso

Kate Macdowell: Escultura em cerâmica.
 
- Mãe, quando eu voltar a ser pequena, você compra uma outra caminha pra mim?