sábado, 27 de abril de 2013

humanidade (work in progress)

deus
diabo
sereia
boitatá
papa
papai noel
ego
jeová
cabra cega
conto de fadas
hierarquia
sexo
medo
alá
oxalá
obatalá
obalalá
oxumaré
dólar
guerra
céu
inferno
eternidade
javé
hades
sheol
verdade
tupã
olorum
encosto
despacho
júpiter
pelé
zeus
amor
cupido
aurora
culpa
tupã
jaci
capeta
guaraci
vitória
mazda
zeus
ísis
fada
duende
pecado
castigo
amon-rá
eloah elohim
aspirina
heroína
anfetamina
thor e odín
atlaua
omelete
saci
huracán
popocatepétl
monarquia
ditadura
democracia
atena
ares
dioniso
gaia
mnemósine
tradição
nanã
iansã
identidade
alteridade
jápeto
gepeto
apolo
afrodite
branca de neve
toth
pai
mãe
filho
espírito santo
belém do pará
bahia de todos os santos
brahma vishnu e shiva
chronos
erguida sobre nada
não poderia mesmo dar certo

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Da noite pro dia

- Mãe, ontem à noite você esqueceu de escovar os meus dentes, hoje eu acordei com mau hábito!

domingo, 21 de abril de 2013

A nova morena do Requebra


Só acredite no que seus olhos vêem e seus ouvidos escutam.
Não acredite nem no que os seus olhos vêem e seus ouvidos escutam.
E saiba que não acreditar ainda é acreditar.
(Bertold Brecht)


O apresentador anuncia, sob os gritos excitados da platéia:
- Hoje, aqui no palco, teremos a escolha da nova morena do grupo Requebra!
 
As oito finalistas já estão no estúdio. A tela ao fundo mostra um desfile.
 
- Elas venceram mais de três mil candidatas. Não foi uma tarefa fácil! Moças de todo o país se inscreveram no concurso que vai eleger a melhor e mais bela dançarina morena do Brasil. E a quem mais poderia caber a responsabilidade dificílima de escolher a nova componente do grupo, se não a alguém com as credenciais de Cumpadre Gamado, um dos maiores artistas da televisão brasileira! As cenas que vemos agora foram gravadas no Rio de Janeiro, em uma das primeiras eliminatórias do concurso Nova Morena do Requebra. Vamos ver alguns flashes, vamos ver!

Num palco sem glamour, improvisado num ginásio, as moças dançam de fio dental, freneticamente, frente à mesa à qual estão sentados os jurados, que olham já um pouco entediados e tomam notas. Algumas extrapolam a cadência da música e os seus corpos parece que irão desmontar no palco, tão rápidos são os movimentos das nádegas. Uma ou outra aproveita os segundos de aproximação da câmera e enfia o dedo mínimo na boca, tentando provar a todo custo a sua fotogenia, um dos requisitos básicos para a conquista do título. Uma delas tem a expressão contrariada, não se sabe por quê. Talvez pela lembrança repentina de um sonho noturno.

Na cena seguinte a repórter já entrevista as selecionadas na penúltima eliminatória. Cada uma delas responde à pergunta feita em off: Por que ela acha que deve ser a escolhida?
 
- Todas nós temos o mesmo potencial e o mesmo sonho, qualquer uma pode ser escolhida - diz a primeira morena.
 
- Todas as meninas dançam bem, todas têm o mesmo sonho, são todas bonitas - diz a segunda morena.
 
- Todas são malhadas e sabem dançar, todas são bonitas e têm um sonho - diz a terceira morena.
 
- A minha formação de dançarina foi toda no axé, desde criança, e agora eu estou perto de realizar o meu sonho - diz a quarta morena.
 
- As meninas são todas simpáticas e boas dançarinas. Estão todas bem preparadas, mas uma tem de ser escolhida - diz a quinta morena.
 
- Eu tenho um corpo legal, sempre malhando, sempre lutando pelo meu sonho, dar uma vida melhor para a minha família - diz a sexta morena.
 
- Eu requebro bem, tenho um corpo malhado, sou bonita que nem a Shetta, morena que nem a Shetta, eu tenho muitas qualidades pra ser a nova dançarina do Requebra - diz a sétima morena.
 
- Ah eu gosto de dançar, eu gosto de malhar, eu gosto de requebrar, é o que eu sei fazer - diz a oitava morena.

Retorna a transmissão ao vivo. O apresentador pede aplausos. As oito finalistas entram no palco e começam a requebrar imediatamente, formando um conjunto coreográfico tão homogêneo que dir-se-ia serem antes colegas que concorrentes, não fosse o modo pouco gentil como por vezes umas avançam diante das outras para poderem chegar mais perto da câmera. A música se inicia com algum retardo:

Menina linda, não vá embora
Está chegando a hora
Você vai ter que pegar
No cabelinho, ai
Mão no queixinho, ai, ai, ai
No umbiguinho
E desce, desce, remexe sem parar...

Todas as moças têm idêntico o tom de pele, de um bronzeado uniforme, e os cabelos igualmente lisos, longos, cortados em franja e pintados de preto, além de roupas iguais: shorts e bustiês amarelo-vibrante. Ao longe fica impossível distinguir uma da outra e mesmo em close as diferenças são mínimas. Não sendo possível mantê-las em fila diante da câmera enquanto rebolam, e para que o espectador possa votar na sua predileta, o apresentador, encobrindo seu atordoamento com um sorriso sem graça, acusa um esquecimento da direção do programa e pede que as moças se retirem rapidamente para que sejam numeradas pela produção. A música é suspensa: Pega, pega, peeeg...

Enquanto isso, ele apanha a ficha dos comerciais e anuncia um filtro d’água que é trazido para o palco num suporte empurrado por duas loiras bastante parecidas entre si. Por detrás dos três é possível notar a movimentação de alguns dos empresários e coreógrafos das candidatas, que já retornam numeradas e permanecem na parte posterior do palco. Um deles, de trajes femininos, acena com a mão para cima e para baixo, indicando a sua cliente a energia que ela deve imprimir aos movimentos. O apresentador se afasta para a esquerda. Recomeça a música:

Pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega
Já peguei
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega
Vê se pega de uma vez...

 
As moças, como possessas, reiniciam o bailado frenético, que contém uma sequência - seguida igualmente por todas - em que o passo é apenas uma série de três ou quatro pulos ancestrais, dados de costas e sucessivamente, com as pernas arqueadas e as nádegas arrebitadas em direção à câmera:

Pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega
Já peguei
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega
Vê se pega de uma vez...

O apresentador retorna à parte central do palco, o volume da música é baixado e as moças continuam rebolando, um pouco recuadas e num ritmo mais lento. Algumas respiram ofegantes. Ele acrescenta:
 
- Você que nos assiste em casa, em todo o país, pode ligar e votar na sua preferida. É o grande acontecimento do ano, a eleição da Nova Morena do Requebra. E lembre-se: Seu voto é de grande responsabilidade!

Passa para o lado direito com um movimento de ombros, sem dar as costas para a câmera, e deixa que as moças se apresentem ainda uma vez. Nesse momento cada uma parece dar tudo de si. Uma delas requebra até chegar as nádegas aos calcanhares e as outras a imitam, todas de costas, tentando alcançar a câmera principal. O apresentador se despede sorrindo, jogando beijos para a platéia, e deixa que o quadro se encerre com o que realmente importa: o close das morenas rebolando de costas para o espectador:

Pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega
Já peguei
Pega, pega, pega, pega
Pega, pega, pega, pega
Pega
Vê se pega de uma vez...

A música declina. Entra um rápido comercial. Uma voz feminina avisa: - Se você não sabe por que foi excluído daquele processo seletivo que esperou por tanto tempo, este livro foi feito para você! Com o Guia Sovocê S/A você vai ter, enfim, o emprego da sua vida! Além de contar com dezenas de dicas sobre o que dizer nas entrevistas, você aprende como se comportar nas dinâmicas de grupo e descobre o que desenhar nos testes psicológicos. Não se deixe enganar! Para se dar bem no mundo dos negócios não basta ser bonito, é preciso estar bem preparado! Adquira já o seu Guia Sovocê S/A e consiga os melhores postos do mercado! Zero operadora onze dois um sete dois dois quatro quatro um!

sábado, 20 de abril de 2013

Guimarâneo

Candido Portinari: Dom Quixote atacando um rebanho de ovelhas.
 
- Mãe, eu inventei um monstro enorme na aula de inglês. O nome dele é Bigantesco!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 10

Estava tudo inscrito na carta: a primeira vez que o vi, a última vez que o vi - e o viver inteiro entre uma cena e outra.
 
A sua crudelíssima bondade, lições de senso comum, a régua dolorosa da ética, o engano racional, megera cartesiana, curvas certíssimas, retas nebulosas, mentirosas buscas, encontros impossíveis. A dor, o desejo, o sofrimento silente - essa metade do prazer...
 
Tudo condensado entre duas cenas às quais jamais será possível retornar, aqui ou em qualquer outro lugar.
 
E ainda, no centro embaciado do meu prisma, eu - em sangue e em brasa.
 
Mas, apenas finda a carta, você se foi.

Findo isto, ainda uma vez, você se vai.

A partir de agora, o piano é só silêncios.

P.
 
 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 9

Por fim o assusta, aqui, o uso do amor.

Meu amor, chamá-lo assim soa quase à violação, meu amor, esse termo que você resguarda para ímpares momentos de nobres propósitos e cuja intensidade somente com o tempo você verá que se dispersa pelo caminho em eventos, em coisas, em palavra, em tédio, em nada.

Como tudo, como todas as venturas (e desventuras): tudo terá o seu fim. A não ser as que nunca tiveram um início - essas coisas tristes, que findam sem iniciar.

Mas o amor não pede quase nada. Ele saqueia, retalha e reproduz em video.

Não importa o que na vida não se vive... Amores serão sempre amáveis...


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 8


Mesmo porque a carta era mais bonita.

Encantadoramente ridícula, nela se podia divisar você inteiro, desde os pés, incrivelmente pequenos, até o arco exótico das sobrancelhas, passando pelos músculos dos braços e das costas, anti-acadêmicos, e um certo modo de dobrar o corpo sobre si, herdado do pai.

Nela, o meu amor era um córrego.
E eu poderia parar por aqui, no ranço de algum ressentimento, mas é a própria escrita quem (atente ao pronome) quer ir além.
Você deveria parar aqui, no pródromo de algum temor, mas a própria escrita é quem puxa você para diante, você quer se reconhecer: tudo o que diz respeito a você lhe interessa – e ao menos agora você tem uma carta. Você tem uma carta? Ao menos você, tem uma carta. Sim, você tem ao menos uma carta – ainda que pública, o que resguarda do risco de que você venha a torná-la... pública!

Inclusive ela pode – ou não – ostentar o seu nome: no início? no final?

Diante da imponência da sua figura indiferente, o amor pode brilhar - quem sabe! - numa nota (encolhida) de rodapé.
 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 7

Pensando bem, isto não é uma carta. Isto apenas remete à carta, escrita ao longo de anos, por vezes sob um silêncio que era quase uma dor.

Enfim as coisas nunca o são por si mesmas, remetendo sempre a outras coisas, que por sua vez também não o são, formando assim mais um ponto de referência. Quem pode garantir portanto a existência da carta a que o título destes posts remete? O remetente?
 
Inteligentemente, dirá você: Isso é o que menos importa!

De todo modo, não lhe entregarei a carta. É algo que ora eu lhe retiro, sem nunca contudo ter lhe dado.

A carta e o amor são minhas invenções - seu domínio e alcance ficam somente a meu encargo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 6

Mas esteja tranquilo que o amor virá. O amor é sempre aos pedaços.

Não deveria, mas fiquei contente ao descobrir que você lê a carta, cotidianamente. Pois saiba que sou tão refém dela quanto você.

Eu, porém, posso interrompê-la a qualquer momento e modificá-la ao meu bel-prazer - ou simplesmente excluir (como fiz com todos os poemas que um dia escrevi para você*) e fazer de conta que ela nunca existiu para além da sua imaginação e, principalmente, da minha memória, esse bosque mexido e remexido.

E como é que isto pode ser uma carta de amor, ao certo você se pergunta. Ou esse amor é muito egoísta, ou então...

Ora, meu caro, todo amor é egoísta – e ensaia, cotidianamente, o seu ponto final.
 

*Ainda uma nota sobre o recalque: ontem mesmo, navegando, encontrei, num site sobre blogs, os poemas abjurados - o fantasma, a sombra do que sobra deles. Mesmo sem tê-los relido,  rever cada um daqueles versos infelizes, as ilustrações escolhidas ao calor da paixão... que inferno! Foi como se uma tropa inteira de você, um exército de vocês invadisse o pátio e me pisoteasse o peito - ainda uma vez.



domingo, 14 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 5

A carta, o amor, o fim, o primeiro, o romance...

(O que torna irremediavelmente artificial o tom da carta é justo a falta de uma resposta imediata, é não saber quem a lê, se a lê, quando e onde a lerá). E, no nosso caso, temos o agravante da máscara, a metáfora, o recalque...

Você deve estar se perguntando (sempre foram tantas as suas perguntas) por que "o professor de piano"? Mas na verdade você o intui, já que ainda não se esqueceu do que eu lhe disse, um dia, sobre o recalque. E esteja certo de que (apesar do óbvio auto-erotismo oral, retardatário e substitutivo) esta carta não é uma armadilha, nem eu teria razões para fazê-lo empreender, a esta altura, uma pesquisa.

Pensando bem, existe sim, em toda carta, uma resposta, e é o próprio missivista quem a formula. A resposta é portanto apenas imaginária, sendo quase uma outra pergunta.

O receptor, a essa hora, já não é identificável. Está fora do jogo.

Como nos sonhos freudianos, tudo aqui é eu mesma - singular, feminino, só.


 

sábado, 13 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 4

Só mesmo a título de desejo (de que fosse a última) - ou de ameaça. A ideia porém não me agrada, já que o pacto primeiro de quem escreve é consigo, e é preciso contar com a possibilidade de que a carta não seja lida, de que não seja portanto a última – nem mesmo a primeira.
 
Não, ao contrário do que você imagina, não perguntarei se a existência do primeiro se faz necessária ao coroamento do último. Não. Isto é uma carta de amor, algo dificílimo de escrever para você. E talvez seja realmente a última, já que o nosso próximo formato será (esta sim uma clara ameaça): o romance. Um romance finito.

E apesar do longo prelúdio, saiba que esta carta – como tudo – terá um ponto ao final.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 3


Eu deveria, talvez, parar por aqui, mas isto, primeiro ou último, segue, porque é uma carta. Ridícula como toda carta de amor. E eu, que já não temo o ridículo, e muito menos o amor, sigo com ela...
E dizia justamente que o último se prolonga ao infinito.

Como é então que o infinito pode ser o último, pode ter um fim, com certeza você está se perguntando, um meio sorriso dependurado no arco grego da boca.

Como é que eu, envolta na fumaça de intermináveis cigarros, posso estar certa de que se trata da última carta que lhe escrevo, justo a você, o especialista na arte de adiar?

 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços 2

Inclusive, querido, não creio que a enviarei, mas talvez a publique – que modo mais certo pode haver de fazê-la chegar a você? Melhor dizendo: que outro modo pode haver de me livrar dela e do que ela retira de mim? 

Mas é a última, sendo todavia a primeira. Mesmo porque o último pode se prolongar ad infinitum, e realmente se prolonga, durante o tempo em que tem duração e antes de que receba em si o status de último.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Carta de amor em pedaços

(ao professor de piano)


Escrevi uma carta para você:
quatro anos e meio burilando e,
justo hoje, que terminei, você se vai.

Nossa carta começava assim:
toda carta é uma carta de amor e
todas as cartas de amor são ridículas.

...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ele

Robert Mapplethorpe, Calla Lilly, 1988, © Robert Mapplethorpe Foundation.


Cair sobre si mesmo
é belo como girassol olhando Hélio.

Mas é queda.
(Paulo Roberto Sodré: "Embaraço")


full
de blue
ele é bonito
como um verso de sodré
olhando a foto de mapplethorpe -
um menino a menos,
mais um homem
dos meus sonhos.

domingo, 7 de abril de 2013

Cair

- Mãe, e se eu cair do prédio?
- Que prédio, meu bem? Aqui é tudo gradeado!
- Não, mãe, o prédio que eu vou escalar quando eu fizer dezoito anos...

sexta-feira, 5 de abril de 2013

CURSO DE VIDA PRESENCIAL

 

CURSO DE VIDA PRESENCIAL

April 1, 2013


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Pensando nas pessoas que precisam aprofundar suas experiências práticas, ditas "de Vida Presencial", e não acham tempo para fazê-lo no dia a dia, seja pelos horários de trabalho auto-impostos, por hábito adquirido ou por alienação tecnológica (casos de plena conectividade), o Instituto Internacional de Vida e Respiro criou o CURSO DE VIDA PRESENCIAL, que justamente por isso abre as portas para recebê-los no período das Férias. Leiam a programação abaixo e inscrevam-se!

São cinco dias de aulas divididas em Técnica de Perda de Tempo, Desautomatização do Gesto e Hábitos Humanos Antiquados, Esquecidos e Prazerosos.
O módulo de Técnica de Perda de Tempo inclui aula prática com saída para a praia sem celular ou tablet, para bater papo, conhecer pessoas e jogar conversa fora, além de banho de mar e rodada de chopp. 

O módulo de Desautomatização do Gesto se comporá, além de palestras com especialistas, de Oficinas de Beijo, Abraço e Olhos nos Olhos.

O módulo de Hábitos Humanos Antiquados, Esquecidos e Prazerosos incluirá visitas presenciais a parentes e vizinhos, passeios a pé pelas praças e brincadeiras no chão com crianças.

Confira abaixo a programação!

Técnica de Perda de Tempo – Dias 09 e 10 de julho de 2013
Carga horária: 16 Horas

Para aqueles que já têm domínio básico da técnica, a aula de Técnica de Perda de Tempo visa a aprimorar a qualidade da sua prática, proporcionando uma transferência da Perda de Tempo na frente do aparelho (celular, tablet ou computador) para uma Perda de Tempo ao ar livre, no sol, cercado de gente etc. Serão desenvolvidas técnicas de auto-apresentação, interação, diálogo e inúmeras outras possibilidades que o ambiente social proporciona.
Serão estudadas as teorias de Análise do discurso, bem como sua aplicação durante a tentativa de interação com uma pessoa desconhecida.
Ministrado por Caio Barthes, o descondicionamento e o recondicionamento verbi-voco-visual do aluno será um dos aspectos trabalhados.

Palestras confirmadas para este módulo:
- Princípios básicos da abordagem gentil, audição autêntica e olhos nos olhos.
- Leitura semiológica de gestos e sinais humanos.
- Como receber um não sem achar que o problema é seu.

Oficina de Desautomatização – dia 11 de julho de 2013
Carga horária: 8 Horas

Nesta oficina serão reveladas dicas valiosas aliadas à prática aplicada de como viver por horas - ou mesmo dias - sem o celular, os smartphones e as redes sociais. Além de recordar antigos recursos de comunicação, que vão do uso do telefone fixo à escrita manual de cartas, o aluno exercitará a escrita sem abreviações, a conversa longa, não-cifrada, sem cortes abruptos e com lugar para o desenvolvimento de alguns recursos de retórica, como argumentação. 

Hábitos Humanos Antiquados, Esquecidos e Prazerosos – Dias 12 e 13 de julho de 2013
Carga horária: 16 Horas

Neste curso os alunos serão convidados a utilizar adequadamente o ambiente presencial para realizar tarefas já esquecidas na atual fase da Era Digital, e ainda se divertirão realizando atividades geralmente classificadas, de modo errôneo, como tarefas. Os inscritos aprenderão como romper definitivamente a sua ligação com o Facebook.

Palestras e oficinas já confirmadas para este módulo:
- Que fazer com as mãos na hora do almoço?
- Esqueci meu celular - e agora?

Oficina de finalização: Brincando com crianças.

Observações:
Não será permitido levar celular ou qualquer outro tipo de aparelho para o curso. E não basta desligar, tem que deixar em casa.
Crianças e cães serão bem-vindos em todos os cursos e oficinas, por auxiliarem na simulação do ambiente natural de Vida Presencial.

Pré-Requisitos: Conhecimentos básicos de Vida Presencial
Ficha Técnica:
Data: 09 a 13 de julho de 2013
Horário: das 9h às 18h
Carga horária total: 40 Horas
Segunda e Terça-feira (09 e 10) – Técnica de Perda de Tempo
Valor do módulo: a combinar
Quarta-feira (11) Oficina "Brincando com crianças": Valor do módulo:  a combinar
Quinta e Sexta-feira (12 e 13) – Valor do módulo:  a combinar
Oficina de Desautomatização: Valor a combinar
Instituto Internacional de Vida e Respiro (Núcleo Regional) – Rua Escravos de Jó, nº69 – Alto da Lapa – São Paulo/SP
Faça sua reserva aqui:
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Telefone



 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Noiva

- Hum... O seu cheiro é tão bom, mãe... Você parece uma noiva!

Um tempinho

- Mãe, é hoje que eu vou dormir na casa da Helena?
- É.
- A que horas você me apanha?
- De manhã, bem cedo.
- Você pode me deixar brincar com ela mais um tempinho?
- Quanto tempo?
- Hum... Quarenta e dois dias!

terça-feira, 2 de abril de 2013

Casmurro


Os louros cabelos
desgrenhados pelo vento,
desesperadamente perdido
no meio do romance,
em busca da verdade
o herói cavouca a terra.
 
Mas isso é mentira.
 
Em honra do falso
- mentecapto - mentiroso,
a verdadeira heroína
assume todo o cinismo e,
francamente contraditória,
amanhece decapiturada.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Over the rainbow


Eu sou a coisa, coisamente. (Carlos Drummond de Andrade)
 

Ela dizia que tinha um quilo e meio de silicone nos seios. Falava com naturalidade robótica sobre processos, técnicas e métodos. Ninguém achava graça na sua desenvoltura maquinal, mas se percebia nos closes da platéia que todos admiravam algo nela: talvez o completo desembaraço com que se entregava aos avanços científicos, talvez as altas cifras que desembolsava nas cirurgias, herdadas do ex-marido, festejado empresário do jogo do bicho - embora valores não fossem citados ali.

Na primeira fila do auditório estavam as moças bonitas, separadas das demais na entrada, pelo pessoal da triagem. Recebiam cinquenta reais para aplaudir, ficar de pé e pedir bis, quando fosse o caso, sempre guiadas pelo homem do cartaz. As câmeras captariam alguns closes naquela fileira e nesse momento elas deveriam colaborar sorrindo.

No palco a mulher explicava agora o processo ao qual se submeteria para que o bumbum não caísse nunca mais. Chegaria aos setenta anos com um bumbum de quinze. “De dez”, uma voz masculina gritou no fundo do auditório. Seria enterrada com nádegas sensualíssimas.

Na platéia, todos repentinamente sérios para a exibição da cena de intervenção cirúrgica de uma famosa modelo, já magérrima, que se submete à retirada de culotes. A musa, no palco, ainda mais séria. Só de vez em quando sorria - de coisa nenhuma, ou fora de hora. Alguns pacientes relatam dores pós-cirúrgicas no ato de rir e ao erguer os braços, mas sua expressão facial parecia indicar algo mais.
 
Não que ela acreditasse na importância das informações que trazia no próprio corpo. O ar grave parecia provir antes da sua condição de carne trabalhada a laser, cortada com bisturi, costurada e amarrada, algo um pouco além do humano e muito aquém do que nos acostumamos a pensar que ele seja. De todo modo, não era mais uma exceção, havia já uma legião de mulheres e homens na sua geração com os rostos todos iguais – dir-se-ia terem vindo de um mesmo planeta. A técnica da bunda eterna se chamava fio de ouro ou bezerro de ouro, não ouvi bem.

Abrindo o plano a partir de um rapaz franzino vestido de super-homem que dança ao som de “Chuta minha cabeça”, a câmera segue na diagonal, às vezes sobrevoando corpos que acenam, às vezes escolhendo um rosto para close. E retorna sempre ao centro do palco, onde a atração principal continua enumerando a série de intervenções por que já passou. Quarenta e oito cirurgias plásticas. Ela apresenta uma foto antiga que não trouxe a tempo de encaminhar à produção. Os telespectadores verão em primeira mão: seu nariz anterior não era exatamente feio, mas quando foi retirar pela primeira vez a papada, o médico sugeriu que aproveitasse a anestesia para dar nele também um retoque.

Apesar de a mudança não ter sido radical, ela agora se sentia outra. O telão ao fundo mostra a cena do total peeling que tempos atrás feriu a pele do seu rosto, levando-a ao isolamento por um mês, até que secassem as feridas e ela pudesse sair de novo de casa, sem risco de infecções, as doses de antibióticos tomadas sempre de acordo com a indicação médica.

De repente, como uma menina malcriada, ela toma o microfone da mão do apresentador, que até então quase nada dissera, e manda um beijo para o seu médico, doutor Femisto, cujo nome faz uma parte do público se lembrar vagamente de ter ouvido uma história sobre ele, duas semanas antes – acusação de pedofilia, estupro ou homicídio. O jornal das oito teria exibido umas cenas gravadas pelo próprio médico no consultório. Numa delas ele dava palmadinhas frenéticas no bumbum de um adolescente adormecido, enquanto retirava o uniforme branco. Na platéia ouve-se um burburinho, abafado rapidamente pelos aplausos, que sobem sob o comando dos cartazes escondidos estrategicamente nos cantos do salão.

A câmera se mantém sobre a musa, que, a pedidos do apresentador, retira a blusa para mostrar as discretas cicatrizes que lhe ficaram nos seios. O público grita, aplaude, vaia. Os seios da mulher parecem tetas de vaca implantadas ali. O apresentador se mantém incólume, à custa de não olhar para eles, ou com o olhar já longamente treinado dos que olham e não veem. Ela sustenta um sorriso débil. A julgar agora pelos seus olhos, pode-se supor que seja mesmo infeliz; duma infelicidade não de todo sabida. Talvez esteja dopada.

O telão exibe outra cena, esta pré-cirúrgica. Agora a musa está deitada de bruços e dois médicos a examinam. Um deles dá apalpadelas repetidas na bunda mais famosa do país, imprimindo, pela sequência cronológica dos puxões e com o rosto escondido por trás da máscara, um ar de ato científico e estritamente necessário ao exame. O outro mostra aos repórteres um tubo com a gordura cor de rosa que será injetada nas nádegas da cantora.

No palco ela se apressa em dizer que a gordura é dela própria e, sem acrescentar de onde foi retirada, evita que se pense em algo como um comércio ilícito de fetos para recauchutagem de bundas.

A seguir é mostrado o trecho de um show dela, ali na mesma emissora, três décadas antes, e, enquanto exibem as imagens no telão, a musa continua a desfilar os lances de seu longo flerte com a medicina estética. Acrescenta que após ter dado à luz cada um de seus quatro filhos, submeteu-se imediatamente a uma lipoaspiração e que o seu pós-operatório é excelente, saindo da maca diretamente para o palco. O apresentador anuncia a chegada aos estúdios do atual marido da cantora, com quem falará depois do intervalo.

Entram os comerciais. Uma voz que vibra a cada vogal anuncia, ao som de “Over the rainbow”: “Com Botas Estrela, quem manda é você!” Surge a imagem de um garotinho meio andróide, cheio de molas, com dificuldade para segurar o tronco, caindo para trás e sendo erguido por alguém. Tem duas pernas atrofiadas e outras duas presas ao corpo por um conjunto de molas. Parece um boneco de caixa de surpresas, mas tem a cara triste de um aleijado. Deixa dúvidas se é um aleijado natural ou se optou pelas botas, ganhando-as de presente no dia das crianças. Parecem implantadas no corpo. Em letras miúdas lê-se no rodapé da tela que é preciso fazer uma pequena cirurgia para poder usá-las. A voz retorna: “Botas Estrela! Basta dar a ordem e elas vão aonde você quiser, sem qualquer esforço! Conheça também a versão controle remoto!”