Metalinguagem

Rodrigo Braga: Desejo eremita.

 

 

- Mãe, o que quer dizer "significa"?

Tatuagem

- Mamãe, a tatuagem é um tipo de renda, ou a renda é que é um tipo de tatuagem?

oitavo andar*

todos saltam

 

menos eu

menos eu

menos eu

menos eu

menos eu

menos eu

menos eu

menos eu

 

 

 

*Dedico à Alma, a cachorra vira-latas que deixei em Brasília.





 

Haikai no escuro

Ébria, lanço então:

- És a chave de outra porta?

A chave diz: - Não!














 

Zumbi

Antes de me atacar por detrás a nuca e a cabeça:
- Mãe, eu vou te beijar todinha.
- Não avisa não, meu filho. Vem e beija.
- Tá bem, é que eu achei que você fosse pensar que eu ia comer o seu cérebro.
- Ahahahahahahah.

Quando

 

 

 

 Robert Mapplethorpe, Jack on the Pulpit, 1988, © Robert Mapplethorpe Foundation.

 

 

Quando ele sorri

- tão raro -

num instante

a maçã

amadurece

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Adubo

Rodrigo Braga

 

- Ô, mãe... Quando a gente morre, é pra adubar a terra?
- De um certo modo, é sim. Quem te contou?
- Ninguém não, mas eu estava vendo as plantas, que as folhas de baixo, as maiores, morrem primeiro. Depois elas ficam ali perto da planta, vão virando adubo...

O show das poderosas

- Mãe, olha o que o Pedro Junqueira me ensinou (cantando, num tom levemente afetado):

Prepara
que agora
é hora
do show das poderosas
que descem, rebolam
espantam as invejosas... (corte súbito)

... Mas, mãe... o que é invejosa?

Iara

- Mãe, você conhece a Iara?
- Iara? Não. Quem é?
- Ela mora no fundo do rio e canta pra atrair os homens pra lá.
- E o que ela faz com eles?
- Ela engana. Eles pensam que ela quer namorar, mas ela só quer levar os homens pro fundo do rio. Ela afoga eles.
- Nossa! Onde você aprendeu isso?
- No floucórico.

Um doce

- Mãe, o tio Gérson me deu um doce.
- Você já comeu?
- Não, eu cuspi.
- É? Por quê?
- Tinha cheiro de lápis e gosto de massinha!
- Argh!

Televisão brasileira

- Mamãe, por que elas têm que mostrar a bunda?
- Ô, meu bem, é a mesma pergunta que eu me faço todos os dias... Será que elas não têm rosto?

Conversa no Posto de Saúde

Cícero Dias: Casal no barco.

 

- É a senhora que aplica injeção?
- Eu mesma. Vamos tirar o casaquinho?
- Antes eu quero perguntar uma coisa.
- Pode perguntar.
- A senhora cuida de todas as crianças que vêm aqui?
- Cuido.
- E quem é que cuida da senhora?

Na plateia

- Mãe, eu vou dançar pra você.
- Oba!
- Mas, quando eu terminar, não precisa aplaudir.
- Não?
- Não. Só tem você na plateia e eu já te conheço bem. Então, pela sua cara, eu vou saber se você gostou.
- !

Sonhar

Rodrigo Braga: Comunhão III.

 

- Todo dia eu sonhava que tinha o boneco do Coringa. Agora que eu ganhei, não preciso sonhar mais.

Conversa na calçada

- Bom dia! Como vai? Você anda sumida...
- É, meu avô se matou.
- Não diga! Que idade ele tinha?
- Ia fazer cem anos em outubro.
- Nossa! Ele podia ter esperado mais um pouco.
- Pois eu já não entendo por que ele esperou tanto.

Três coisas

Rodrigo Braga: Comunhão II.

 

- Eu gosto tanto de olhar no seu olho, mãe!
- É? Por que, meu amor?
- Por três coisas.
- Quais, filho?
- Porque ele é verde, porque eu fico perto de você e porque eu lembro de quando eu era neném.

torre de mogno

 

 

 

 

 

acordei extremamente

sólida

 

antes de tudo ver

te vi

 

jogaste vinho no meu

xadrez

 

que bagunça essa nossa casa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Dia dos pais

- Mãe, a tia disse que domingo é o dia dos pais! O que será que ele vai me dar de presente?

Objeto

Rodrigo Braga: Comunhão I.

  

 

- Mãe, as almofadas são objetos?

- São, sim. Por quê?

- Porque as almofadas são macias e objeto é uma palavra tão dura!

- !

Laerte

- Mãe, eu gostei do Laerte.
- Gostou?
- Sim, quando eu crescer, eu quero fazer o que ele faz.
- Quer se vestir de mulher?
- Não, mãe; eu quero ser cartunista.