Acordo de falsos sonhos tranquilos. As mãos parecem úmidas, porém estranhamente vazias. Ao lado da cama, vejo a lata do lixo onde está a coisa, e uma faca de jardinagem. Calculo o tamanho que deve ter o corte necessário para fazê-la retornar ao seu lugar. Além da pele e de pequenas camadas de músculos, será preciso romper alguns nervos, veias grossas e delgadas. Limpo a faca, amolo-a cuidadosamente. O fio fino brilha à luz primeira do sol. Mais uma vez, será sem anestesia, às cruas, sozinha, e à mão. No lado esquerdo do colo, entre um que outro rubis, apalpo a área já quase cicatrizada. Finco a lâmina com uma força sobreminha, como se se tratasse do peito de um outro. Desta vez não há, dentro, nenhum conteúdo a proteger. A boca de carne se abre para receber de volta o invasor. Apanho-o rapidamente na lata de lixo. Parece intumescido, e mais pesado do que na saída. Será preciso talvez ampliar o corte. Capricho nas bordas, com um estilete. Aos poucos aproximo a coisa do corte que praticamente a suga, ajeitando-a de volta no nicho do qual, de repente, parece nunca ter saído. Em questão de minutos, ela aparenta estar de novo bem arraigada. Começo a sentir o ritmo constante da sua batida, que apenas vacila um pouco no início dos trabalhos. Ergo-me da cama, ajeito os cabelos. Hoje vou chegar atrasada.