Vincent Van Gogh: Autorretrato com a orelha enfaixada.
Flora não gostou de van gogh: "Esse não, mamãe; esse não!" Ou então não gostou do livro das reproduções, a sua dura capa gigante... Ou talvez o tenha preterido apenas em contraste com o anterior, um bosch cheio de bichos novos e outros conhecidos, ou mesmo em comparação silente com a revista da flora silvestre brasileira, tão sem graça para mim e à qual retornou assim que fechei o grande livro.
À qual, aliás, retorna sempre, fascinada, a cada vez, com a descoberta de um novo detalhe: "Que é isso, mamãe?". (Um dia, na falta de livros de histórias por perto, iniciei, a pedidos do francisco - "Conta uma história, mamãe!" -, um
era uma vez a partir das páginas da revista amada, com seus pistilos, vanilas e rubiáceas, mas nenhum dos dois aceitou que fizesse a minha viagem imaginativa apontando o dedo para uma vitória-régia dissecada e com legenda: não confundem ciência com contos de fadas).
E ela rejeitou o van gogh. Mas o seu comentário não veio de imediato, como pode parecer pelo dito acima. Antes ela o folheou muito curiosa, viu os girassóis, os comedores de batatas, os campos de trigo, noites estreladas, a orelha enfaixada de vincent, o semeador... Ela olhou, ela viu, ela quis mesmo ver, mas algo nesse não lhe agradou.
Certa hora vi seus grandes olhos claros sobre os olhos decadentes de vincent. Não resta dúvida de que ela o viu, mas... o que foi, enfim, que ela viu? Não importa? Importa, mas não consigo vislumbrá-lo - então tateio.
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