quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Carta aberta 18

Que bacana, Heitor querido, que bacana. Você merece isso - e mais.
Sim, tem o vazio, né? Eu me lembro que na época do mestrado senti isso.
É muito tempo se dedicando a, digamos, uma coisa só. Tem gente que compara a defesa a um divórcio. Senti isso, sim - junto com uma sensação de grande liberdade.
Já no doutorado, para cumprir o prazo e retornar ao trabalho na época certa, marquei a minha defesa para logo depois do nascimento dos gêmeos. Eles tinham um mês quando os deixei em Vitória e fui ao Rio voando, para a defesa, que foi muito legal. Meu orientador foi o Eduardo Coutinho.
Na banca tínhamos a Beatriz Resende, o Dau Bastos, o Evando Nascimento e o Wilberth Claython.
Eu estava tão cansada e extasiada com a novidade dos filhos que aquilo lá, por contraste, parecia uma coisa muito fácil, por incrível que pareça. Estava tranquila demais. A banca comentou a minha segurança nas respostas etc. É que eu tinha um batalhão me esperando em casa para me acordar e sugar a noite inteira. E o pediatra pressionando para que ganhassem peso. Assim sendo, não foi possível sentir vazio algum. Era o olho do furacão: o casamento aos frangalhos, a mudança espalhada
pelo chão de um apartamento alugado (tínhamos acabado de retornar de Brasília), uma barriga de metros, depois os gêmeos, a dificuldade de encontrar uma babá, a desefa da tese, o retorno ao trabalho, tudo junto. No dia da defesa, o meu maior medo era pingar leite sobre o texto que leria, sem exagero nem metáfora. Foi o único dia em que não amamentei. E você me desculpe por essa coisa meio Frida Kahlo - é difícil para um homem se imaginar no meu lugar. Foi assim...
Quanto a ficar sem celular e computador, é bom demais. Por sorte o telefone da mamãe (uma coisa paradoxal que chamam aqui "celular fixo") estava com defeito, e o relógio também não funcionava. Tínhamos de ligar o rádio e esperar o locutor dizer as horas, quando precisávamos disso por alguma razão. Ninguém sentiu falta. É mato, sim, é mato. Um silêncio e um escuro que clareiam a alma.
Um dia te levo até lá.
Beijos. Parabéns!
Andrea.

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