domingo, 28 de janeiro de 2018

linguagem



do pomo que a tarde madura
em torno do seu corpo e meu
exala inteira a dialética do amor




no mais ínfimo hiato entre línguas
cada pergunta absurda se oferece
a todas as respostas indecentes


obscenas senhas sutis
sussurros infinitos dos mirantes
queixos que afundam em carnes
perfumadas de outras carnes perfumadas


troncos colidem
na correnteza de corpos espasmos
fecundando a nascente de um novo rio


sons de sapos em lagos


mel das abelhas líquidos fluentes
quebrar de cascas muito finas
estertor de animais paridos


estoura a bolha do silêncio

























segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Insônia


 

Ai, meu poema de sombras,
Absorva o leite fresco de camas e fronhas.
(Paulo Sodré)



Súbito, entre um suspiro e o cadafalso do segredo,
o gancho sinuoso do seu nome
se escapa e sibila assoprado sobre a escarpa dos seios.


Anfíbio de dias e luas,
encilha silente a tropa dos desejos,
insones sobre uma poça ardente do saara.


Rasgando bandeiras e aras,
amamenta na ponta da foice a serpente febril,
comandando, comendo com os olhos
o bando das carnes todas em convulsão...

 

 

 

 




Do dia para a noite

os dedos do girassol cresceram

em torno a minhas grades bem lapidadas.

 

Gaiolas ao vento violento,

bater de portas e portinholas,

o único copo se quebra em quatro cacos...

 

Num turbilhão,

por entre as asas brancas

dos pássaros barulhentos em revoada,

 

senti que o meu cabelo se enrodilhava

e um ramo denso de espinhos

subia por baixo do cadafalso.

 

Tarde...

As tábuas de madeira rangem sob os pés

e no já um turvo instante por séculos rodopia...