Estendido o tapete, Ele a empurra, de joelhos, para a ponta mais macia, que semelha o lombo de uma almofada.
O gesto hoje teve algo de simuladamente macho e brutal, ela observa, mas sabe de antemão que esta será mais uma tarde sem surpresas, entre tantas tardes de joelhos na ponta do tapete.
Ele ainda lhe lança aos pés uma outra almofada, e esta é um objeto de verdade, no entanto parece cair infinitamente.
Ele leva a mão esquerda ao cabelo dela, retirando-o do rosto, enquanto a direita acaricia o seu próprio quadril, liberando assim a visão do ato para uma câmera invisível que no entanto, ambos o sabem, os vigiará até o fim.
Ela se aproxima, já um tanto duvidosa sobre a veracidade do seu desejo voraz.
Percebe-se a mulher no foco da câmera, mas não parece tirar disso qualquer satisfação. De repente se nota que tudo mudou nas dimensões.
Câmeras, câmaras... Dimensões de mansões.
Diz algumas palavras encorajantes (aquelas mesmas que precisava ouvir). E mete a boca.
Mete a boca, era o que Ele pensava já em falar para o Mário, quando o encontrasse.
Por uns segundos ali Ele pensa no Mário. Os pensamentos desviantes que poderiam até auxiliá-lo, estranhamente não o auxiliam nessa hora.
A mulher tem os ombros caídos. Infinitamente.
Não é difícil a Ele contudo manter firme a coluna diante do trabalho empenhado de alguém que o libera do seu próprio esforço. Ainda que, no final, nem sempre se colham frutos.
Ele, por vezes; ela, jamais.
O fantasma do Mário se afasta um pouco, mas outras sombras o substituem de imediato.
A mulher tem os ombros caídos, era só o que notava agora, com insistência. Como alguém pode trazer os braços tão pendurados a ponto de parecer mesmo que não tem ombros? Seria um novo fantasma? Um problema congênito? Má formação? Ou seria o vício dos que limpam o chão para que outros passem? Que peso fora posto naquelas costas? Quem o teria colocado ali? Seria a deselegância o estigma dos que são postos, diuturnamente, de joelhos?
Sacudiu a cabeça para espantar pensamentos insetos. Voltou a pensar no Mário. Aquele fantasma era um recalcitrante.
Súbito sentiu como se o diâmetro entre os seus dedos não fosse mais suficiente para recolher o tufo crespo dos cabelos da mulher.
Ela seguia empenhada, mas alguma mudança já se notava no pedestal em que Ele se habitava.
A coluna agora começava a dar sinais de fraqueza. No fundo, ela esperava o golpe de misericórdia, viesse de onde e como viesse. Mais uns segundos e não poderia manter o corpo ereto.
Ele tinha encolhido alguns centímetros e a sua boca deslizava para áreas em que apenas produziria cócegas.
De todo, não reclamaria... Aquela tarde tinha sido diferentemente estragada. Ele ria sarcástico, a culpa era dela. As mãos dEle, em geral muito pouco hábeis, tentaram qualquer gesto de ordem prática, mas os dedos agora não lhes pareciam, nem a Ele, nem a ela, suficientes, e ela olhava impressionada para o homem que encolhia à sua frente, a olho nu.
As dimensões todas do corpo tinham diminuído em muitos centímetros. Apenas a cabeça permanecia quase do tamanho natural, o que, antes que sorte ou mérito, semelhava mais um castigo: ter de assistir, consciente, à sua própria redução.
Recostou-se na cama. A mulher se ergueu e ajudou, apanhando-o no colo.
Por alguns minutos ficaram inertes ali, num canto, a olharem ambos para aquele corpo já ínfimo, e que encolhia. A essa altura tinham quase desaparecido seus dedos inúteis, o pênis já nem mais existia.
Ela chorava, entre chocada e liberta.
A câmera há tempos fora esquecida.