Foto: Cassandra Lima. Flickr, 2006.
A professora de Yoga (que não é professora, bem dito - meu eterno bode expiatório) desfiava frases do hermógenes. Poderia ter lido um poema (diz o bith: poesia é auto-ajuda). Eu já implicava com a simplicidade excessiva, aparentemente sem fundo, quando me lembrei do relato de um presidiário, que vi num documentário. Ele declarava, em poucas palavras, como a prática da Yoga, por intermédio do hermógenes, tinha mudado a sua vida. E seu olhar confirmava o que ele dizia. Há tempos aprendi a ouvir as palavras de olhos postos nos olhos, o discurso ficando quase num segundo plano. No dia em que se disseminar o domínio (que algures já deve existir) do olhar para dissimulação das intenções, teremos de reescrever todos os códigos de ética e moral... Para quem está recluso, a importância da recriação de um universo no próprio corpo é inegável. Do mesmo modo, saber o alcance do calcanhar. E parece que hoje estamos quase todos reclusos; alguns renegam os limites mesmo do corpo (adalberto foi quem me lançou, certa feita: passo uma semana sem sair de casa; sou ou não sou um prisioneiro?).
Hermógenes é uma das pessoas mais sérias que já li. Meu pai também acha. A sua história de vida testemunha por ele: foi desenganado pelos médicos quando já estava numa idade avançada, começou a praticar yoga, hoje tem quase 90 anos, curou-se completamente, e é o responsável pela divulgação da prática no Rio e no Brasil. Seus livros não são só de poesia, em sentido estrito, ele tem verdadeiros tratados sobre a ciência-religião yoga. Sua academia, aqui na Uruguaiana, é uma das mais frequentadas, e ele acabou virando uma espécie de persona midiática da yoga, aparece em revistas de avião, colunas de jornais popularescos etc. Nada disso, no entanto, diminui a sua contribuição para o yoga no Brasil. E, apesar de toda a vulgarização que naturalmente ocorre quando um novo campo de conhecimento atinje as "massas", o yoga permanece como um despertar para o afeto. Alguém ousa prescindir disso?!?! Nenhuma novela ou nenhuma revistinha de banca pode corromper ou destruir uma ciência que existe há cerca de 6.000 anos. Podemos, sim, reinventá-la!
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