(George Harrison)
Mais que argolas, ata-nos o ouro. Antes que os muros, separam-nos as ruas. Aquém dos sonhos, o pesadelo. Disfarçando as grades, os jardins. Dentro da gravata, sufoca-nos a própria voz, presa na garganta. Antes que a casa, a família. Antes que a família, seu nome. Antes do nome, a norma. Antes da norma, o medo. Para além do medo, paraliza-nos a certeza. Além da certeza, o fato. De termos medo e de estarmos certos... Muito mais que a desconfiança, aterroriza-nos a vontade. De dar e receber sem medo. Antes do projeto, inutiliza-nos a concepção... E vice-versa. Afora o álcool, embriaga-nos o desejo. Para além da loucura, a lucidez. É anterior às cadeiras que nossos corpos sejam curvos. Antes da cama, o cansaço. Antes do físico, ameaça-nos a mente. Antes da mentira, assalta-nos o olhar. Antes de ver, a vista. Antes da cegueira, o olho. Antes do outro, eu. Antes de mim, alguém, e antes dele, algo. Por fora das caixas, gavetas. Em torno delas, closets. Acima das marcas, imagens; acima e abaixo delas, os seres. Para todos os seres, palavras; cerceando o pensamento, palavras. Lavras, labutas, dias e noites, trabalho. Os idiomas se tocam, buscando imperceptivelmente a origem comum, mas os aviões cruzam os países por rotas traçadas, impalpáveis nos céus, inadiáveis. Os mitos, suas setas e epopéias, tudo o que nos acerta e marca... as cicatrizes, a cura... tudo sinaliza um destino inapelável, de erros e acertos - princípios que anunciam o fim. A casa cairá, sob tempestades e tsunamis. Seus habitantes morrerão no tempo, antes ou depois do previsto. A terra seguirá, mais quente, a sua órbita, talvez um pouco modificada. E esse sol, por fim, esfriará. Para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário