sábado, 13 de novembro de 2010

Conjunções

Francisco aprendeu a fazer conjunções. No início nem era bem uma conjunção. Aliás, começou - como nos parece dialeticamente natural - com o interrogativo. Duvidei de que estivesse falando sério; quero dizer: de que já tivesse noção de que causa e consequência pudessem se articular na linguagem.  Estranhei porque, de um dia para o outro, desandou a usar tantos porquês, e em situações nas quais, para minha parca lógica adulta, soavam tão descabidos, que parecia antes um saborear silábico do termo em si:
- Vamos trocar de roupa.
- Por quê?
- Sua irmã acordou!
- Por quê?
- Está chovendo.
- Por quê?
Ao largo de uma semana escutei dele, enfim:
- Tem que ir pra escola porque hoje vai ter pula-pula.

E logo depois:
- Por que você passou batom?

Estava já convencida de sua proficiência em algumas das variantes quando o surpreendi enfim encetando um diálogo muito interessado com a irmã:
- Porque ele caiu do cavalo! Aí começou a tocar uma música porque.

Já ontem ouvi de Flora a reprodução de uma norma ouvida em algum lugar:
- Não pode correr na rua se não.
Sem reticências e com destaque para o não.

Hoje, quando lhe disse que poderia levar consigo o barquinho, respondeu rápido:
- Não pode levar brinquedo pra escola se não.
Com mais essa demonstração, estou certa de que é a paixão pela própria capacidade de expressão que nos agarra primeiro, ainda muito pequenos.

Um comentário:

  1. por favor, Andréia, separa cada historinha dessa dos seus filhos...para o futuro livro...

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