Auguste Rodin.
Não por acaso, lembrei-me muito, nesse mês que se foi, de algumas das coisas que ouvi, vida afora, do meu querido Alex. Sendo embora o irmão caçula e de todos o mais moleque, ele sempre conseguiu ser também, sem esforços aparentes, o que mais ensina - ao menos a mim, que talvez por inata afinidade, talvez pela proximidade geracional, tive a sorte de, até que nos afastassem alguns imperativos categóricos (como diria o Vinícius), conviver com ele mais constante e intimamente.
Uma de que não me esquecerei é que "Você nunca deve levar mais coisas do que consegue carregar sozinha". É do tempo em que acampávamos juntos, indo de ônibus de Vitória a Matilde ou ao Rio Bonito, mas muito me auxilia no dia a dia com duas crianças e duas hérnias de disco.
Foi também na juventude, ao final de algum namoro significativo, na fase ainda ultrarromântica de tédio e desesperança, que ouvi dele a previsão (essa de ordem nada prática) de que "A vida ainda vai te surpreender muito". E não é que ele tinha razão!? O difícil é perceber o óbvio.
Nesses últimos tempos porém o que mais alto me saltou da caixa-de-boneco-bobo-das-lembranças foi algo que lhe ouvi ao fim de uma das nossas aventuras bem sucedidas e de cujo contexto já não consigo me lembrar: "Se alguém lhe pede ajuda, não importa quem, pode ser o seu pior inimigo, você tem a obrigação de ajudar".
Poderia, obviamente, ser apenas mais uma frase, dessas que dizemos quando queremos impressionar alguém com nossa vasta bondade ou sapiência. Mas não! O que impressiona no meu irmão, matemático mecânico pescador, é a incomensurável capacidade de, dando conta de um cotidiano próprio repleto de obrigações enfadonhas, tarefas difíceis e resoluções por vezes dolorosas, encontrar condições para auxiliar aqueles que lhe estão no entorno, sempre que lhe estendem a mão. (Porque também, convenhamos, saber pedir ajuda é necessário, embora ninguém precise dizer isso a quem está realmente necessitado, o aprendizado é automático. Não vale é ressentir-se de não ter recebido ajuda se o orgulho ou outra coisa qualquer foi maior que a coragem de solicitá-la).
Foi assim quando afundei o carro nas areias de Manguinhos... Em minutos, lá estava o Superalex (deve ter sido algum namorado invejoso ou enciumado que primeiro o apelidou assim, mas, quando os valores reais superam as mesquinhas intenções, mesmo a ironia se torna verdadeiro - e fraco - elogio).
E também quando o mesmo velho carro deu defeito nas profundas de Accioly. Às sete da manhã, lá estava ele com peças novas, delicadeza de modos... e sorriso!
E foi sempre do mesmo modo, todas as vezes em que a tarefa parecia (e era) demasiada para seres humanos comuns: algo como, por exemplo, fazer mudanças, transportar grandes volumes (ou então encomendas delicadas demais), criar soluções artesanais para impossíveis espaços, resguardar para sempre segredos tacitamente relatados, socorrer crianças, apagar incêndios... E outras coisas que não ficaria bem relatar aqui.
Porém o que impressiona (e alegra, vitaliza, faz crer na vida) são menos a pronta atitude e a enorme competência para nos desenredar das nossas armadilhas de tempo e de lata. O que vale mais, de verdade, e alcança na gente um centro também irradiador de grande boa vontade, é ver nos seus olhos verde-paris primeiro a leitura atenta do nosso estado de alma (ao qual ele lança, antes de tudo, a sua corda, porque à sua sensibilidade não escapa que atolar um carro, tanto quanto terminar um namoro, podem significar grande sofrimento para alguém. Nunca vi Alex menosprezar a dor alheia). E depois a real satisfação que se nota nele por ter conseguido, simplesmente, ajudar.
Talvez tenha advindo daí, desse seu modo de ver a vida e as relações interpessoais, a enorme gratidão que fez questão de demonstrar publicamente aos profissionais que o salvaram após o seu mais grave acidente de trânsito, quando tinha ainda dezoito anos...
A lembrança de cada uma dessas ocasiões (e foram tantas que muitas se perderam na corredeira do esquecimento) retorna quando passo por grandes apuros. E também cada vez que penso nele: Quando será que ele precisa de ajuda? Por que será que ele mesmo não aparenta nunca necessitar-nos?
Então, Alex, o que vc me diz?!?!
ResponderExcluirO grande lance é RESOLVER. O que me fascina e finalizar o problema. Uma angustia uma preocupação, um medo... e um segundo depois só temos o lado direito da equação e já não faz parte do presente o que causava mal estar. Referente à versatilidade, não vejo dessa forma. Na verdade 90% dos “problemas” são resolvidos por qualquer um, os outros 9% eu estou aprendendo e 1% não tem solução, e “se não tem solução resolvido está”. Mas não sou isso tudo não, a Andréia e que é muito gentil.
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