Quando eu sei, respondo. E são dez, vinte perguntas seguidas, bombardeando a memória e a reserva vocabular. Quando não sei, digo que não sei. Ou então - simplesmente - invento, o que, em geral, torna o jogo mais interessante para mim, também, já que o que importa, primordialmente, é que consigam capturar o adulto para o diálogo, a troca afetuosa.
- Mãe, por que aquela moto é verde? (Respondi a essa da primeira vez em que passamos a pé em frente ao estacionamento, no retorno da escola):
- Porque alguém achou por bem pintá-la assim. Depois eu mesma percebi que a resposta era tola e que, entre tantas possibilidades, eu vinha escolhendo a pior e mais simplória, uma resposta que, se dita a um adulto, poderia ser interpretada mesmo como má resposta. Às vezes se age assim burramente, com as crianças, por fascínio da busca de uma verdade na verdade improvável, e na qual elas nem estão interessadas, afinal esse ainda não é o mundo das provas.
Agora, a cada vez que passamos por ali, melhoro um pouco (ou penso melhorar) o tom e o teor da resposta. Pela pergunta eu posso esperar, porque é infalível.
No primeiro dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque alguém achou por bem pintá-la assim.
No segundo dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque o desenhista que a projetou amava as árvores!
No terceiro dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque o pintor achou essa cor bonita!
No quarto dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Ah, porque é uma cor que tem muita saída no mercado... Vende bem!
No quinto dia: - Mãe, por que aquela moto não é azul?
- !
Que delícia!!! Adoraria que eles fizessem essas perguntas pra mim... eu ia inventar um mooooooonte!!! Não sei, será?!?!?!
ResponderExcluirVez em quando eu lembro mesmo de você, nessas horas. Eu também penso assim, às vezes: Ah, hoje eu vou inventar a história mais sensacional. Vai ser surreal. Eles nunca ouviram nada parecido. Na hora H porém desponta uma recepção fria ou outro imprevisto qualquer (crianças são muito imprevisíveis) e lá se vai a Sherazade-Borges-Rosa por água abaixo...
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