domingo, 15 de julho de 2012

Carta aberta 4

Heitor,
eu nem queria descambar para esse tipo de lembrança, porque isso já tinha sido superado e o resto sublimado, você sabe (até ficcionalmente), mas repito que não há de quê se envergonhar.
Eu mesma não guardo nenhuma recordação ruim da sua atitude "brutal".
Pelo contrário: confesso (eu nunca tinha reparado antes o quanto eu uso esse termo) que essa foi a melhor parte. Aquela noite ainda foi importante para mim por uma razão que você nem suspeita: descobri que minha força física é grande, quase maior que a minha vontade.
Aliás (lidar com ficcionista não é fácil não, hem), estou achando, desde a sua resposta à primeira carta aberta, que quem tem manipulado o conteúdo dos e-mails não sou eu, e sim você.
Suas mensagens são primores de concisão e exemplos de escolha da palavra certa.
Muito melhores que essas cartas que eu posto aqui e bonitas demais para que eu não as traga para cá, direta ou indiretamente.
E agora você vem me dando de bandeja, pronta para que eu a insira no meu texto, uma frase como:
"Não que me arrependa de ter me jogado em
> você meio brutal,"...
Ora, Heitor, eu sou leitora - como você. Eu conheço leitores.
Uma frase como essa tem força implícita, desperta o imaginário, leva a vários tipos de comoção. Releia-a... Ainda que assim, fora do contexto, alguém possa vir a entendê-la como uma expressão conotativa, nós dois conhecemos bem a literalidade dela.
Veja só como a sua escrita começa a tomar conta, brutalmente, da minha. Suspeito que esteja fazendo mais um experimento para a sua tese sobre a autoficção.
Esteja à vontade. Matéria não faltará.
Abraço carinhoso. Boa sorte na defesa!
Andrea.

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