terça-feira, 11 de junho de 2013

Murchando


Goya.
 
 
A sala era pequena e parcamente mobiliada. À mesa do centro estava um rapaz que lia. Mamãe e outra mulher conversavam no sofá.
 
A atmosfera pesou de repente, quando uma estranha força tomou o lugar e esvaziou um dos sofás, deixando-o como uma imensa bexiga murcha. Os arranjos de flores também murcharam.
 
Virei-me um pouco mais para o lado da mulher, de modo que os outros dois não me vissem, e concentrei o olhar no assento e nas flores que murchavam. 
 
A coisa toda agora se acelerava, na medida da minha vontade.
 
A desconhecida, completamente entregue a tentar compreender o que acontecia a sua volta, nada percebia na minha expressão, e eu, por minha vez, disfarçava todo o esforço, usando, para obter o efeito desejado, somente o olhar. Eu queria ter certeza de que era de mim que emanava toda a força.
 
Mamãe, apesar de tranquila, estava pálida e mantinha os lábios rispidamente fechados, não em reprimenda a minha ação (que afinal se iniciara involuntariamente), mas em reconhecimento à amplitude daquela energia. Somente ela sabia que era eu a causadora de tudo.
 
Desviei ainda uma vez o olhar para o outro lado da sala e concentrei-me nas cortinas que ficavam por detrás do rapaz, com medo de atingi-lo. Os panos balançaram com força. Tive medo de que a sala ruísse.
 
Iniciou-se um forte tremor de terras, que deve ter durado segundos. Quando voltei a mim, mamãe havia desaparecido.

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