domingo, 25 de julho de 2010

Nos nós (parte 1)

Para meu irmão Alex: nos cântaros dos olhos o verde-paris.

I

De novo formigando atrás de alguém que ouça minha voz em preto e branco. Ainda não é o máximo a que consigo chegar. Pior é passar as noites em claro tentando deslocar com os dedos a ponta do papel cenário que encobre o pesadelo bruto. Enquanto a vizinhança sonha que sonha brisas metáforas, demolir na tela, click por click, os castelos de pedra que em silêncio, no degredo da noite, esbocei. Foram dias inteiros procurando palavras que caiam como chuva. Eis o primeiro rol de vocábulos sutis. Uma pessoa tão frágil que quebrasse os dedos ao pegar nas suaves, levíssimas coisas, e fosse deixando, mais que as impressões digitais, a pele - nos cantos das mesas, nas capas dos livros, nas cigarras dos apartamentos, nas pontas dos cigarros, nas pontes, nos carros, nas portas corrediças, nos corrimões dos corredores, nas corridas de táxi, nas colunas dos jornais, nos cais, nos cacos, nas xícaras, nos corpos, nos lacres, nos leques, nas luvas, nos vivos, nos uivos, na vulva, nos ovos, nos nós, nos sóis, nos sós, nos ós.

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