Salvador Dalí: Portrait of a passionate woman hands.
Senti uma leve cócega na garganta. Surpreendeu-me que tivesse parado, logo ali, um fio dental. Consegui pinçá-lo firmemente, entre o indicador e o polegar, e fui puxando, puxando... Quanto mais se revelava a suspeita de que não tinha fim, mais se ampliava a minha agonia. Ao mesmo tempo, não podia parar de puxar.
A partir de certa medida foram despontando, agarradas no fio, agora já bem engrossado de baba e restos de comida, pequenas letras garranchais, como as que meus filhos escrevem nos cadernos. Formavam palavras cujo sentido eu não conseguia distinguir.
Ao fim de um metro a náusea já era insuportável e as letras que vinham eram maiores, de plástico colorido, tipo lego. Palavras completas saíam em profusão, cortando-me a garganta já em sangue, sem que eu pudesse falar e nem mesmo ordená-las ao meu modo.
Despertei! O pesadelo de fora parece contudo menos verossímil.
Fantástico!!!
ResponderExcluirEi, querido amigo! Sabe que eu também gosto muito desse texto? É o sobejo de um romance - e o sêmen de outro. Um abraço.
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