Salvador Dalí: Construção mole com feijões cozidos.
Eu assistia à exibição das imagens em três
dimensões. A enfermeira me ofereceu pipocas. Na tela, uma pequena ferida cor de
jambo aparecia na altura do esôfago e crescia a olhos vistos, em tempo real. O jogo de cores era fascinante. Ela me fazia acompanhar cada
nova imagem por meio do ponteiro luminoso que empunhava. Era terrível seguir
com os olhos a doença evoluindo fora de mim, em imagens cercadas de efeitos
especiais, o que tornava a sensação ainda mais dolorosa. A mulher parecia se
divertir com seus magníficos instrumentos, enquanto eu começava a ter espasmos
de náusea perante a prova inexpugnável da minha desgraça. Num ímpeto virei-me para a esquerda, tentando escapar à visão detestável, mas lá estava uma
nova tela branca, em que começava a ser exibida uma nova radiografia, desta vez do meu seio, de
perfil.
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