Candido Portinari: Mulher chorando, 1944.
Meupai mostrou acima, do lado direito:
Olha aquilo! Estávamos entre a praia e a selva, e a água vinha, incrivelmente,
deste lado, e não daquele. Era uma onda gigantesca e chegava sorrateira por sobre as árvores.
Percebemos logo que ela nos afogaria. E veio descendo da mata, trazendo troncos
e ramos. Num platô lá em cima vi a moça num maiô preto, me acenando com uma
expressão suave de quem não via a água. No instante derradeiro pensei sobre que
gesto lhe faria de volta, talvez um aviso que sabia inútil, naquele último
momento, a onda crescendo por detrás dela, pronta a desabar com força,
arrastando tudo. Pensei em acenar com a mesma serenidade, preservando-lhe a
alegria até o instante final e levando comigo, para o nada, aquele momento de graça
ingênua em meio ao caos. Enquanto erguia a mão para o gesto maquinal do adeus,
percebi a inutilidade daquele ou de qualquer outro gesto, ou mesmo de gesto nenhum, já que para nós não haveria a memória sequer de nada disto. Foi o
instante em que tudo desabou e ao qual somente eu sobrevivi. Agora eu procurava
alguém, farejando os escombros, escavando a terra com as unhas. Passei um
dia inteiro gritando e auscultando o solo. A garganta já me doía de tanto
gritar. Ninguém apareceu.
Aterrador e também instigante.
ResponderExcluirVeja como as coisas se confundem no mundo, você me faz pensar: água demais pode ser "aterradora", literalmente.
Excluirkkkk
ExcluirAndréia, qual o nome deste quadro!! Estranhamente ele me afeta... não sei te explicar...
?
ExcluirNão sei, ajude-me a descobrir.
ExcluirChama-se "Mulher chorando", de 1944.
ExcluirObrigada; registrarei.
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