Joan Miró: Blue II.
Eu tinha ido apanhar o resultado de uma
radiografia. Estava apreensiva, achando que descobriria algum problema, e
pensava: a cabeça foi o único órgão que releguei ao esquecimento. Por que a
negligenciei? Constantes exames de todas as outras partes, e ela abandonada há tanto
tempo! Antes que o envelope fosse aberto, sugeri ao médico que fizesse logo uma
tomografia. Pareceu-me ver o desenho de um tumor oval numa das chapas que ele
analisava à minha frente, diante de um foco de luz. O homenzinho não conseguiu esconder sua preocupação com o
que viu. Disse imediatamente, como se a doença tivesse sido previamente
diagnosticada: “O tumor já se expandiu do céu da boca para a área superior da
cabeça”. Ia falando e perfurando o papel com um palito grande, de madeira. Era
como uma fotografia colorida e lá estava a mancha. Comecei a imaginar,
desesperada, o que faria para controlá-la. Ele disse que usufruíamos de
medicamentos fortes, hoje em dia. Tive medo dos efeitos colaterais.
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