Sonho causado pelo vôo de uma abelha ao redor de uma romã um segundo antes de acordar.
Interrompeu-se abruptamente o "Samba do avião". Algo pareceu trepidar. Estávamos todos já de pé no corredor quando o
piloto anunciou, numa voz gravíssima e ainda arranhada pela guturalidade que, para disfarçar o pouco domínio do idioma, imprimiu à primeira versão do texto, dita em inglês: “Senhores passageiros, os senhores não vão acreditar, mas teremos
de fazer um pouso forçado... Estamos agora a trinta mil pés de altitude e
sobrevoamos o Rio de Janeiro! São vinte e uma horas e doze minutos na
Cidade Maravilhosa. A temperatura local é de 30 graus centígrados. Os que
estiverem do lado esquerdo do avião poderão apreciar a belíssima vista do
Corcovado. Tenham todos uma ótima viagem e obrigado por voarem conosco!” O tom
era ao mesmo tempo funéreo e jocoso, mas achei melhor não perder tempo em cogitações. Olhei pela
janela e constatei que não adiantava pôr o equipamento de segurança, despencávamos
numa velocidade inimaginável. Havia muitas crianças no avião. No instante
seguinte já recolhíamos os corpos espalhados pela praia. Pedaços da fuselagem
flutuavam no mar e a sensação de desgraça era grande, mas eu estava feliz por
ter escapado. Foi então que concluí: ter escapado desta torna apenas mais óbvio
que de uma próxima não escaparei.
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