Joan Miró: The flight of the dragonfly in front of the sun.
Terminados os exames, o médico, sem
desviar os olhos da prancha de radiografia, lançou: “Infelizmente, hoje eu não
tenho uma boa notícia para lhe dar!”. Eu continuava sob o efeito do Valium, por isso o
seu desígnio não me abalou. Foi até a mesa, cotejou as pranchas com as suas
anotações e disse que, na semana anterior, o meu estômago estava ótimo, róseo como
o de uma criança, mas que agora... Não concluiu a frase, nem eu me importei com isso;
não havia ansiedade nem medo. Perguntei se indicaria remédios, e ele, sempre com os olhos distantes, balançou
negativamente a cabeça de esfinge, enquanto rabiscava qualquer coisa numa folha. Estirou o braço, ainda sem me olhar diretamente, e entregou-me um
papel timbrado, enquanto já retirava da estante algumas amostras grátis em cujas tampas ia
anotando horários e doses, sem dizer uma palavra. A cena começou a me
impressionar. Ao sair, sem um gesto ou palavra de despedida, disse somente que esperasse sua auxiliar, que me faria uma rápida
exibição dos resultados.
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