Mas esteja tranquilo que o amor virá. O amor é sempre aos pedaços.
Não deveria, mas fiquei contente ao descobrir que você lê a carta, cotidianamente. Pois saiba que sou tão refém dela quanto você.
Eu, porém, posso interrompê-la a qualquer momento e modificá-la ao meu bel-prazer - ou simplesmente excluir (como fiz com todos os poemas que um dia escrevi para você*) e fazer de conta que ela nunca existiu para além da sua imaginação e, principalmente, da minha memória, esse bosque mexido e remexido.
E como é que isto pode ser uma carta de amor, ao certo você se pergunta. Ou esse amor é muito egoísta, ou então...
Ora, meu caro, todo amor é egoísta – e ensaia, cotidianamente, o seu ponto final.
Ora, meu caro, todo amor é egoísta – e ensaia, cotidianamente, o seu ponto final.
*Ainda uma nota sobre o recalque: ontem mesmo, navegando, encontrei, num site sobre blogs, os poemas abjurados - o fantasma, a sombra do que sobra deles. Mesmo sem tê-los relido, rever cada um daqueles versos infelizes, as ilustrações escolhidas ao calor da paixão... que inferno! Foi como se uma tropa inteira de você, um exército de vocês invadisse o pátio e me pisoteasse o peito - ainda uma vez.
O amor é despedaçado, despetalado...
ResponderExcluirQue tal a mudança que fiz no título? "aos pedaços" me agradava pela força dramática, mas "em pedaços" parece remeter mais diretamente à carta como veículo, enfim como elemento de artifício linguístico.
ExcluirEu gostava mais do outro, a diferença é sutil. O que interessa é que o texto é muito bonito. Tem uma tristeza tão delicada, uma vontade de chorar. Você conseguiu escrever uma carta de amor sem falar em amor praticamente. Mas isso é o amor, isso tudo que está ali.
ExcluirAgradeço por essas palavras. Era o desafio mesmo, desta feita: fazer uma carta de amor que não fosse ridícula. Descobri que só desse jeito: ou sem amor ou sem a carta.
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