quinta-feira, 30 de agosto de 2012

treinamento

Paula Rego: The Shakespeare room.

acabo de queimar
uma broca
com meu cigarro.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Insônias paralelas


John Constable: Seascape study with rain cloud.


E as paralelas dos pneus n'água das ruas
são duas estradas nuas
em que foges do que é teu.
No apartamento, oitavo andar,
abro a vidraça e grito quando o carro passa:
Teu infinito sou eu.

(Belchior)

A chuva canta lá fora
o canto da minha infância,
o som da infância do mundo.

No quarto morno e seco,
o silêncio mergulha
em funda escuridão.
As crianças dormem tranquilas,
enroscadas aos seus cobertores,
feito gatos.

Há horas nenhum carro
imprime no asfalto
as sonoras paralelas...

O bairro imerge no nada -
é o fim do fim de semana.
Hoje não houve gritos,
nem mesmo ladraram os cães.

O mundo todo, oceanos, planetas -
tudo repousa em sua própria órbita.

Só eu faço aeróbica sobre o colchão,
ampliando as hérnias de disco
enquanto solfeja ao meu ouvido
um demônio recém-despertado.

Lego

Castelo de lego. Foto: Andréia Delmaschio.
 
- Mamãe, legal é tudo que é feito de lego?

Medo do escuro (diálogo entre irmãos)

- Francisco, você tem medo de tudo!?
- Não, eu só tenho medo do escuro!
- E por que você tem medo do escuro?
- Porque o escuro me vence.

sábado, 25 de agosto de 2012

Abraço

Candido Portinari: Natalia com palhacinhos.
 
- Por que você foi pra minha cama esta noite, Flora?
- Porque eu acordei pensando em você.
- E por que quis dormir agarrada a mim?
- Porque você fica mais linda quando eu te abraço!

Pane no Gtalk

- An
-  Jo
- drea!
- sely!
- Rs.
- Ahahah.

Carta aberta 15

A mim fascinam exatamente a ironia e os jogos de palavras, Dea,
justo isso - entre outras coisas.
Eu estou bem, apesar do ar de Londrina, por esses dias, estar muito seco.
Mas também estão acontecendo coisas legais, aqui: festival de cinema, festival literário
(vi o Paulo Lins anteontem e hoje tem Marcelino Freire),
evento na UEL (ontem, o prof. Roberto Acízelo).
Semana que vem é a defesa! Dia 29.08, quarta-feira.
Agora é preparar algo para a apresentação.
E você, Déa, como está?
Vocês estão em greve aí no ES?
(Tenho uma surpresa para você: será no início do próximo mês).
Beijos!
H.

Carta aberta 14

H., no caso (do) Raduan Nassar eu acho que essa ação imprevisível era quase
previsível. Sabe que também me estranha falar sobre esse nosso objeto de estudo e paixão comum?
Curioso...
Conheci as peças do Thomas Bernhard por intermédio do meu ex-companheiro,
que traduziu algumas para o português a pedido dOs sátiros, de São Paulo.
Creio que não tenha publicado as traduções.
Uma delas, chamada "Ludwig e as irmãs", foi encenada aqui em Vitória, no Carlos Gomes,
por volta do ano... 2000!
A peça é extremamente irônica e tem jogos de palavras adoráveis,
muito difíceis de recuperar na tradução.
Beijos,
A.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Carta aberta 13

Também achei bem bacana, Dea.
O negócio é dele e ele dá para quem quiser. Aliás, pagou para dar. Se foi uma boa escolha,
ou não, somente Raduan Nassar para pensar antes de dormir em seu colchão de chacareiro.
A mim também não me surpreendeu tanto a notícia. Esse fato só comprova que o homem abandonou mesmo a literatura e não era firula, conforme comentado pelos críticos da época – já faz tanto tempo! Para fecundar a terra, quanto trabalho ele não deve ter tido. E todos teremos de abandonar nosso campo, lavrado ou não...
Não consigo falar muito sobre o Nassar. Ele fez uma puta obra e desencanou, para mim é só e suficiente (mas não o bastante!). Isso prova que a literatura está mais próxima de galinhas e soja
que de saraus e noite de autógrafos. Ou que a literatura independe desses últimos dois conjuntos.
Abandonar tudo sempre é uma miragem da liberdade, ao que parece.
Você já leu Thomas Bernhard? Hoje acabei outro livro dele, o Meus prêmios. Gosto muito de outro: Perturbação. Era um austríaco peculiar.
Beijos,
H.

Carta aberta 12

Heitor, que bacana o Raduan ter doado a fazenda!
Ainda mais para uma universidade e com as condições que colocou.
Muito obrigada pelo texto e pela lembrança. Adorei saber.
Na verdade um ato desses, vindo dele, não me surpreende.
Parece antes um relance de lucidez: já que mais cedo ou mais tarde se tem de abandonar tudo,
inclusive a vida, então por que não fazer como ele, agilizando e organizando o que for possível?
Vitória está linda: quente de dia, fria à noite - como tem de ser...
Continuamos (Vitória e eu) esperando sua visita.
Beijos. A.

Carta aberta 11

Dea, tudo bem?
Li essa reportagem dias atrás. Lembrei de você e seu gosto pelo Nassar:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-70/questoes-pos-literarias/depois-da-lavoura
Como vão as coisas aí em Vitória?
Um beijo,
Heitor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Gêmeo

Kate Macdowell: Romulus and Remus.

- Mãe, eu sonhei que tinha um gêmeo no meu quarto...
- Um gê-nio, como o da garrafa do Aladin?
- Não, um gê-me-o!
- E aí?
- E aí que o gêmeo era um monstro!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Livro

- Flora, esse livro aí toca uma só música ou várias diferentes?
- Várias iguais.

Psicanalista

Kate Macdowell: Quiet as a mouse.

- Mãe, de noite você sonha com quê?
- Com pessoas que eu conheço, pessoas que eu amei...
- Não é pra sonhar com pessoas, mãe!
- Não!?
- Não, tem que sonhar com o mal...
- O quê!? Por quê!?
- Porque tudo que a gente não gosta tem que virar pesadelo.

domingo, 19 de agosto de 2012

Aviso tardio

Kate Macdowell: Persephone.

Expressão podada vira azia,
venda na boca, vendeta.

O silêncio, imposto,
cria úlceras.

Tapar os ouvidos acaba em grito,
censura gera revolta.

Não poder cantar: pesadelo,
calar o que se pensa: insônia.

Queimar as cartas: fofoca,
proibir o verso: romance.

Fala interrompida finda em gagueira,
ausência de diálogo em câncer de garganta.

Cortar a língua já é suicídio,
chumaço de estopa: stop.

sábado, 18 de agosto de 2012

Rei

- Mãe, se o meu pai morrer, eu viro rei?
- Não!
- Por quê?
- Porque o seu pai não é rei!

Gigante

- Mãe, eu sonhei que tinha um gigante aqui no meu quarto.
- E como ele era?
- Não era muito grande, não, era um gigante até bem baixinho...
- Ah, tá.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Se eu morresse amanhã

Candido Portinari: Palhacinhos na gangorra.
 


Quando nos nascem os filhos, descobrimos a mortalidade. (Joan Didion)

Sinto que o mês presente me assassina. (Mário Faustino).

Se eu morresse amanhã as crianças estariam bem. Até às cinco da tarde, em nada teria mudado a sua rotina: almoço, brinquedo, aula de capoeira. Às cinco horas, já de banho tomado, seriam levadas pela mão até a entrada da escola, onde se sentariam, mochilinhas ao lado, como todos os dias, para me esperar, enquanto o restante da turma seguiria em fila indiana para o refeitório.

Amanhã, sob o olhar atento do vigilante uniformizado, os dois olhariam ansiosos para o portão, mas desta vez não receberiam o meu abraço. Nunca mais sentiriam o meu calor.

Cinco horas, cinco e meia... seis horas. A tia retorna com a turma do refeitório: - Vocês ainda estão aí? - Mamãe se atrasou? - Querem esperar na sala com os colegas? São muitas perguntas para crianças de quatro anos - e são só o começo.

A partir de então se inicia, para eles, um estranho périplo de gentes estranhas, que olham com pena e suspresa: - Tão pequenos ainda! - A mãe tinha tanto amor por essas crianças! Mãos na boca, olhos se abrindo, mãos na cabeça... Esses pequenos gestos dos que recebem a notícia iniciam os dois no aprendizado mais efetivo do que significa: um verbo no passado.

A teatralidade das pessoas em volta prepara-os para algo que tem de ser conhecido e interiorizado o quanto antes, mas que, contudo, ninguém chega a lhes dizer o que é, mesmo porque ninguém quer falar a crianças sobre a morte da mãe, ninguém quer dar a má notícia. O pai, talvez... O que foi, que houve... Ninguém os olhará nos olhos e lhes dirá que a mamãe morreu ou coisa que o valha. O que aconteceu? Essa pergunta ainda não sabem formular com clareza, ou talvez não serão ouvidos em meio a tanta confusão, centrada muito acima de suas cabeças, provavelmente, agora, um pouco mais baixas. Suas demandas são de outra ordem, da ordem dos não acostumados à falta, dos que sequer suspeitam da existência da ceifadeira.

O que ditam é muito mais um presente, já então impossível: Eu quero a minha mãe! Talvez utilizem, a partir de agora, com grande propriedade (sutil evolução que será contudo ignorada por pessoas preocupadas com questões práticas, quiçá com a sobrevivência e o bem estar físico das duas criaturinhas): Por que a mamãe está demorando hoje? Já é de noite? Onde está a mamãe?

Certamente seriam poupadas do espetáculo sombrio do enterro, do ridículo velório.

Em breve meus irmãos, entre si, determinariam quem ficaria com as crianças, até que o pai diligenciasse. Se ficassem com o pai, seriam criadas por uma empregada, expectativa para as noites que talvez alongasse e entristecesse infinitamente os seus dias, já longos, na escola, a depender da índole dessa nova mãe assalariada, habitante de um distante subúrbio e mãe de quatro outros filhos.

Os fins de semana, quando o pai viaja a trabalho, seriam de grande imprevisibilidade, desenhada de acordo com a disponibilidade dos amigos dele, dos parentes da mãe: ora estariam em Manguinhos, ora em Bela Aurora; ora em Nova Venécia, ora em Jardim da Penha... Para Francisco, que gosta de silêncio, de ordem e de rotina, essa fase seria difícil. Ainda não imagino de que modo resolveria as suas crises de medo, que o levam a minha cama praticamente todas as madrugadas, assim como ocorria comigo mesma quando criança. Refiro-me não ao consolo imediato, que tanto pode auxiliar quanto retardar a resolução; penso antes no desenrolar lento e gradual dessa faceta de sua personalidade, que, estando viva, eu acompanharia...

Nos primeiros dias, ou nos primeiros tempos, provavelmente ele teria crises de choro e declararia "saudade da mamãe", como faz quando dorme em casa do pai ou porque "está demorando muito" a hora de retornar ao lar. Enquanto isso Flora talvez o consolasse, beijando-o, alisando-lhe os cabelos. Pode ser que ele voltasse mesmo a chupar o dedo e, se não voltasse, seria porque a mãe ficou tão feliz com a sua atitude de parar imediatamente e para nunca mais retornar ao hábito, desde que ela lhe descreveu o ciclo da verminose...

Da Flora, aparentemente mais bem adaptada à nova rotina ou à falta dela, pode ser que se ouvissem comoventes perguntas desconcertantes acerca do desaparecimento materno, que os ouvintes, a depender do seu grau de sensibilidade, poderiam interpretar como poéticas, dramáticas ou mesmo cômicas.

Ninguém poderia contudo mudar a sua rotina de trabalho para cuidar exclusivamente da readaptação dos dois pequenos seres. Nem mesmo minha mãe deixaria de cuidar de suas plantas e galinhas, transformando radicalmente o seu dia-a-dia, por décadas planejado, para dedicar seus últimos e cansados anos a cuidar dos netos órfãos.

Por mais que alguns, como meu irmão Alex, se esforçassem por se colocar no lugar dos pequenos gêmeos, ninguém poderia compreender (eles mesmos apenas sentiriam, e por algum tempo) que perder a mãe, neste momento histórico pós-feminista e anterior à resolução da famigerada dupla jornada, é mais que perder a mãe. Perder a mãe é perder a oca do aconchego, o calor da casa, o sossego e o silêncio do território conhecido e a cada dia, de novo, reconhecido.

Todas as sutilezas polidas pela passagem das águas transparentes do cotidiano, tudo se perde com a perda da mãe. Tudo tem de ser reinventado: a fruta preferida, a roupa de dormir, a temperatura do leite... Têm de ser redescobertas, por alguém que mal e mal as descobrira: a sandália que machuca, a palavra que significa outra (biscoito de cobra, rabo de macarrão)... A camisa do dragão, o filme da floresta, todas as incorreções dos belos jogos de linguagem, tudo agora se torna, como num passe anti-mágica, ininteligível aos ouvidos dos novos adultos. As palavras passam das suas acepções familiarmente ressignificadas, da corredeira da recepção mais afetiva, para a pescaria comum. Será preciso, aos pequenos órfãos, criar outros modos de fala, mais lógicos, objetivos e racionais, que empurrarão os dois para os cinco, depois para os seis anos de idade e assim por diante. A responsabilidade de se fazer entender cescerá juntamente com o leque das necessidades.

Se fossem morar com a família de um dos meus irmãos, ingeririam muito mais açúcar do que estão acostumados a ingerir e talvez engordassem um pouco no início, especialmente porque seria difícil negar-lhes um chocolate, agora que tinham perdido a mãe...

De repente teriam mais irmãos, é finda a ditadura dos gêmeos! Do nada, outros jogos e regras, outras ordens a que obedecer, surpreendentes permissões e, volta e meia, uma voz que se aproxima lhes faz abrir os olhos, achando, ambos ou um dos dois, que é a mãe que retorna da longa viagem, se é que não lhes dirão que a mãe foi para o céu. Francisco, que vinha, ultimamente, mostrando grande interesse pelo sistema solar, agora imagina, impressionado e confuso, os cabelos da mãe esvoaçando por entre os planetas, a mãe voando e rindo perto da lua... - Mas por que ela preferiu ir sem mim, e nem me avisou?

Flora à noite dará suas pequenas gargalhadas, desta vez sonhando com as cócegas que lhe fazia a mãe antes de dormir, com os beijinhos suaves que trocávamos no meio da noite...


Mas no fim da tarde, na escola, porque o fato já se repete há anos, a força do hábito fará com que ainda esperem pela mãe,  e é provável que, mesmo depois de algum tempo, ainda torçam para que hoje venha a mamãe. É possível até que troquem palavras, confabulando entre si sobre o que fariam quando acontecesse o esperado retorno, rejeitando assim o pai, a empregada ou o tio que vem apanhá-los naquela tarde.

Algumas vezes, na escola, por detrás dos cartazes onde a mãe se escondia para não atrapalhar o desempenho dos dois na aula de capoeira, ainda verão umas pernas que se assemelham às dela, e talvez daí a uma ou duas semanas ainda corram para ver se sou eu, embora nunca mais nenhum coleguinha tenha gritado, como quase todos os dias: "Flora, Francisco, sua mãe chegou!"

Com o tempo se acostumariam ao novo ambiente que lhes fora designado, mas com certeza não seriam mais as mesmas crianças. Talvez viessem a ser adultos melhores. Talvez piores. Menos ou mais sensíveis... nunca se sabe, mas nunca os mesmos que seriam se eu não morresse amanhã, se seguissem sob o afeto e a influência da figura materna.
 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Opções

- Responde, meu filho...
- Pergunta, mãe, pergunta!!!
- Você quer a broa ou a bisnaguinha?
- Ahhh... isso aí é muito fácil!

Diálogo BBB

- E quais são as suas expectativas com relação ao programa?
- Eu vou me esforçar ao máximo para tentar ser eu mesma dentro da casa!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

dois pontos

Kate Macdowell: Escultura em cerâmica.


o ócio
e o cio:

coisas
ciosas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Alquimia III

Filha e filho doentes:

o que era merda,
vira bosta!

o que era bosta,
vira merda!

Tempo II

- Toma logo essa água de coco, meu bem. Quanto antes você tomar, mais rápido você melhora.
- Eu acho melhor viver um dia de cada vez.
- !?

Tentando cócegas

- Mãe, o que é que faz você sorrir?

fotografias desenterradas (pródromo)

Kate Macdowell: Sweet.


Para o Hide

a renda verde
na sua boca.

na minha boca
vendada

o gostinho
da vendeta.

ninguém perde
por esperar.

Econtro com Renato Pacheco, parte 5

Penedo. Vitória, ES. Foto: Luiz Antonio. Fonte: http://olhares.uol.com.br/penedo-vitoria-es-foto2972824.html?nav1


Ao eco um tanto soturno das últimas palavras de Renato Pacheco seguiu-se um rápido silêncio, em que pareceu refazer-se daquela espécie de transe, logo após o qual o seu sorriso aconchegante tingiu-lhe o rosto de branco e rosa, como se tudo tivesse se passado num milésimo de segundo, e ele ficou igualzinho à caricatura de David Liebke.


Sorri também e fomos caminhando para o sol lá fora. Dobramos a calçada em direção à avenida Beira-mar e seguimos: eu, adiante; ele, cavalheiresco, sempre um pouco recuado. Notei que trazia ainda o tal livro, e como sua leitura me deixara com o espírito digamos, um tanto literário, resolvi falar sobre o que estava escrevendo para, quem sabe, colher suas preciosas sugestões.


Fui transpondo as calçadas irregulares da minha nova morada - pedra, buraco, raiz de árvore - e dizendo das lendas capixabas que pesquisaria para depois lhes dar, em conjunto, um tratamento ficcional. Mesmo de costas, podia vê-lo balançando a cabeça afirmativamente. Falei dos Botocudos e suas Esmeraldas, da Fada do Penedo, do Pássaro de Fogo, do Frade e da Índia. Disse ainda do adendo que formariam as outras lendas, urbanas. Mestre Renato ouvia a tudo, calado. Já em frente ao Hortifruti, um pouco insegura e incomodada com minha própria fala sem fim, virei-me para ver se seu rosto denotava real aprovação do meu projeto, e percebi que ele já não estava.


O livro no entanto ficou num canto da calçada, perto de uma placa de propaganda de telefone celular e trazia ainda o marcador da livraria, justo na página central, como eu imaginava. Ali tinha início a história dos cegos.

domingo, 12 de agosto de 2012

Encontro com Renato Pacheco, parte 4

Praia de Camburi. Vitória, ES, 1969. Fonte: http://fotosantigasdevitoria.blogspot.com.br/


O mais curioso era que Renato Pacheco lia a longa história sem virar uma página sequer do livro, e praticamente sem movimentos nos olhos. Pareceu-me que criava na hora aquela história, mas a riqueza de detalhes exigiria uma imaginação mais que prodigiosa e uma mente sintaticamente infalível para poder transformar todo o imaginado, no momento mesmo da imaginação, num conto acabado, com começo, meio e fim, como o era aquele dos cegos.

Enquanto o ouvia, pensei por vezes: por que escolhera justo aquele texto para me oferecer neste nosso reencontro? Teria sido puro acaso? E logo agora, quando ando em apuros com a visão... De todo modo, lia como um cego, ou um iluminado, falando como se as palavras lhe brotassem da boca sem o mínimo esforço. Estou certa de ter ouvido pelo menos umas vinte páginas, retiradas todas como que do centro inerte da folha.

E o conto se encerrava assim: “Havia sombras muito misteriosas na garganta, o azul se aprofundando para o púrpura, e o púrpura para uma escuridão luminosa, e lá em cima estava a ilimitada vastidão do céu. Mas ele não mais prestava atenção nessas coisas; ficou bastante quieto por ali, sorrindo como se estivesse satisfeito simplesmente por ter fugido do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei. O brilho do pôr-do-sol passou, a noite chegou, e ele ainda estava quieto, deitado, em paz e contente sob as estrelas frias e claras.”

sábado, 11 de agosto de 2012

Encontro com Renato Pacheco, parte 3

Brueghel: Parábola de um cego conduzindo outro (detalhe).
 

Terminados os cumprimentos iniciais, ele me convidou a sentar e abriu o livro que trazia na mão, me pareceu que exatamente ao meio. Lembrei-me de duas vezes em que o vira ali, em encontros - aqueles sim - com alguma premeditação. No primeiro, fim de ano como agora, passou-me às mãos uma bela carta de Natal, e no segundo, por ocasião da publicação de Nomes pra viagem, me presenteou com o romance Meia vida, de Naipaul, com impressionante dedicatória em meu nome.

Na época estava eu já às voltas com a pesquisa para a escrita de sua segunda biografia, o que por si só estabelece curiosos laços entre duas pessoas, e o texto acaba por revelar tanto do biografado quanto do biógrafo. Renato Pacheco parecia senti-lo muito fundamente; percebi-o pelo que deixou na página de rosto do livro do escritor de ascendência indiana.

E se na época do contato diário com sua obra, sua alegria incomensurável me parecia muitas vezes respingada de grande amargor, agora a sensação era bem outra: uma aura infinitamente feliz o envolvia, como aquela que envolve os bebês.

Puxou-me a cadeira. Sentei-me. Sentou-se e compôs uma expressão tão fingidamente grave que me pareceu mesmo divertida. Iniciou então a leitura de uma narrativa longa, longa, que parecia mesmo não ter fim. Era a história de um vilarejo isolado do resto do mundo, onde só nasciam e habitavam cegos; um lugar onde todos já haviam perdido inclusive a memória do que significava ver. A esse lugar sem luz e sem cores, eis que chega, certo dia, um personagem que para os moradores era absurdo, que é o homem que enxerga, vendo, dizendo e fazendo coisas sem nenhum sentido, tentando ainda, na primeira oportunidade, se tornar o rei daquelas paragens onde as necessidades mais íntimas eram realizadas em público e onde cada um se isolava no momento de se alimentar, por vergonha dos sons e odores.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Encontro com Renato Pacheco, parte 2

Arcimboldo: O bibliotecário.

Realmente, como dizia Yourcenar, cada lugar tem seu perfume. Mesmo depois de alguns anos em contato com o cerrado, respirando o onipresente cheiro adocicado de fruta conservada na casca, a aragem úmida de Vitória ainda me entontece, conturbando por vezes os sentidos. Foi sob essa constatação que cheguei à livraria.

E ontem foi mesmo um dia excepcional: a loja estava fechada para balanço, mas o livreiro, velho conhecido, me convidou a entrar. Como os poucos funcionários se encontravam no andar de cima, desenvolvendo seus cálculos de fim de ano, pude circular com tranqüilidade pelo pavimento inferior, deserto e em completo silêncio. Não buscava nada em especial, queria mesmo era reviver algumas sensações. E estava envolvida com as lombadas pouco familiares da estante de Direito quando me assustei com o peso de uma mão no ombro, virando-me no susto e vendo ali materializado o professor Renato Pacheco, largo sorriso aberto à minha frente.

A princípio não soube o que dizer, menos pelo fato de sabê-lo não mais entre nós do que pela minha natural timidez, que impede certos arroubos afetivos, mesmo no reencontro com grandes amigos. E de repente, tentando resolver meu acanhamento, abracei-o, talvez exagerando um pouco ou, a quem nos visse de fora, parecendo que eu simulava uma intimidade que na verdade nunca existiu. De todo modo, eu queria, precisava sentir o seu abraço caloroso no meu retorno a esta cidade.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Encontro com Renato Pacheco, parte 1

Vitória, ES. Foto: Humberto Capai.

 
Ontem à tarde nossa mudança chegou a Bento Ferreira. As conclusões eram muitas, e quase nenhuma inédita: não precisamos de tantos objetos; ainda não nos livramos de tudo o que podíamos; foi uma besteira levar os livros para Brasília etc.

Eu pensava nesses excessos enquanto desembrulhava louças jamais utilizadas. Cheguei à janela sorvendo os ares do bairro novo, tentando interiorizar aos poucos a vista sempre em mutação da grande cidade. Me deparei adiante com o morro do Jaburu. Vi-o primeiro como um todo, um bloco monolítico que somente o tempo fará com que meus olhos desvendem um pouco mais, sempre um pouco mais e de um modo sempre incompleto. Percebo que o espaldar da janela brilha de minério de ferro; meus braços ficam marcados. Espero que não se crie depósito nos pulmões em formação dos meus pequenos gêmeos.

A visão onipotente das avenidas principais desse lado da cidade já iam me absorvendo dos pequenos devaneios domésticos. Com o olhar segui as mulheres voltando a pé do trabalho para o outro morro nosso vizinho, cujo nome ainda não descobri. Uma ameaça de chuva fez surgirem sombrinhas desbotadas em variados pontos. O rapaz da barraca de galetos encheu-se de dúvidas sobre o destino daquela tarde de comércio: olhou o céu, olhou a rua, o movimento, e resolveu desarmá-la, privando a todos do cheiro bom que já chegava ao oitavo andar.

De repente, olhando o bairro do alto, lembrei que estava bem próxima de um ponto de empatia, entre os meus eleitos pelos cantos de Vitória: a livraria Lógos da Praia do Suá, praticamente ao lado de casa, a partir de agora. Adiei a arrumação das taças e resolvi descer até lá, a ver se me sentia acolhida pela vizinhança.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Francisco: novas questões

Kate Macdowell. Escultura em porcelana.


- Por que a gente fica triste?
- E quando a gente fica triste, por que a gente chora?
- A gente tem que morar todo dia na mesma casa?
- Cada pessoa tem uma voz diferente?
- Por que a voz dos velhinhos é assim?
- Quando eu crescer, eu posso mandar em você?
- Todo mundo morre?
-  Por que você não acha dinheiro na rua?

Francisco: mais questões

Kate Macdowell: Bloodless bodies.


- O que é que a gente tem dentro do olho?
- Por que a perna fica roxa quando a gente se machuca?
- O osso é feito de quê?
- E aqui na cabeça, o que é que tem?
- Por que a gente tem voz?
- O que é que tem dentro do peito, que faz a gente falar?
- E a orelha, é feita de quê?
- Se a gente cair do alto, o osso quebra?

Francisco: questões

Kate Macdowell. Escultura em cerâmica.

- Mãe, por que o nosso corpo não sai voando pelo ar?
- De noite o sol vai para onde?
- E a lua, por que ela não está aqui, hoje?
- E se o nosso planeta girar pro outro lado?
- Por que um outro planeta não vem para cá?
- O céu é de vidro?
- As ondas do mar não congelam por quê?
- E por que aqui onde a gente mora não tem neve?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sábado de Aleluia

Philip Hass: Releitura de "Inverno", de Arcimboldo.

Nada prenunciava um dia incomum. Meupai trabalhava desde cedo na casinha de ferramentas, com a mesma cara de lata de sempre. Minha mãe costurava no salão ao lado da casa, ouvindo a rádio Cariacica AM, por meio da qual, alguns anos depois, eu me deleitaria com as lendas e canções do Projeto Minerva.

Era Sábado de Aleluia, um dia ensolarado como parecem ter sido quase todos os dias da minha infância, vivida entre o manguezal e o coqueiral entremeado de barracos de madeira que Meupai havia construído pessoalmente e que agora eram alugados a famílias nordestinas cujos membros haviam migrado para o sudeste em busca de trabalho em companhias como a Vale, na época conhecida pela sigla CVRD.

Estávamos no início da década de setenta. Eu tinha quatro ou cinco anos e vivia fascinada com as linhas coloridas e brilhantes que minha mãe usava para bordar girassóis e colibris nas barras das calças boca-de-sino das jovens vizinhas influenciadas pela onda hippie.

Eu tinha me escondido no galpão abandonado, anexo à casinha de ferramentas, onde gostava de apreciar, naquela hora da manhã, os riscos de luz que passavam pelas frestas e se projetavam sobre os montes de madeira, incendiando no ar a poeira que se erguia quando eu batia neles com a ponta de uma ripa. O galpão era escuro e o calor lá dentro só era mesmo suportável no início da manhã.

Escutei quando Meupai, no cômodo ao lado, soltou um grunhido incomum, e temi que tivesse descoberto meu esconderijo. Como não fez menção de se aproximar, tomei coragem e, supondo que fosse qualquer outra a razão do gemido, ergui-me do canto onde estava sentada e encostei o rosto numa das frestas. Naquele ponto a madeira semelhava uma escova dura, parecia ter sido esfiapada durante o corte. Apertei o rosto o mais que pude contra a tábua gretada, para que o olho conseguisse um ângulo mais aberto do cenário lá fora.

Daqui para a frente - caso saia - este relato me sairá a custo.

Foi então que vi Meupai, forte e peludo, sair da casa de ferramentas bufando. Levava numa das mãos um grosso feixe de fios amarelos que imediatamente reconheci como sendo os restos daqueles que ele utilizara na instalação elétrica de uma das últimas casas que havia construído.

Num relance vi o mendigo cambaleante que compunha o fundo do quadro vivo. Era um homem já grisalho e maltrapilho, e não conseguia parar de pé, estando por certo muito bêbado.

Meupai, jovem e lépido, cruzou o quintal e achegou-se a ele em questão de segundos, apanhando-o ainda no que seria, caso o bairro fosse urbanizado, a calçada, e já no limiar do nosso amplo quintal. Sem dirigir-lhe uma palavra sequer, Meupai ergueu o braço o mais alto que pôde e baixou sobre o homem a primeira saraivada de fios, depois a segunda e a terceira, e assim sucessivamente.

Meus olhos queriam comer a madeira, como se ver pudesse me esclarecer aquele equívoco. Não, o homem chamado Meupai não podia estar espancando aquele outro, fraco e indefeso. Mas meus olhos não me enganavam. Meupai despejava contra o outro, que agora já rolava no chão, toda a sua fúria. Um calafrio me percorreu o corpo. Meupai não via que corria sangue da carne daquele outro homem? Em segundos não pude mais olhar. Engoli algo amargo e seco, semelhante a um bolo de pó de madeira, e corri à procura de minha mãe, que estranhou a minha palidez e foi em busca de um copo de água com açúcar.

Naquela noite não pude dormir. Nem nas noites seguintes. Até hoje ainda não durmo direito.
Minha mãe, que sempre recriminou o hábito terrível de se malhar o Judas, também sofreu nas entranhas aquele Sábado de Aleluia.

Nos dias seguintes, e enquanto ecoou a notícia pela vizinhança, Meupai afirmou que o homem havia tentado molestar uma das nossas inquilinas adolescentes. Do alto dos meus cinco anos, ousei contrariá-lo justo à mesa do jantar, dizendo que tinha visto todo o espancamento, e ele se transformou diante dos meus olhos, contrariadíssimo. Disse algo como a filha preferir um mendigo a ele, culpou a minha mãe por isso e acrescentou que da próxima vez deixaria que invadisse o quintal e a casa etc. Tive medo de olhá-lo nos olhos e pensei que, se agia assim como um homem velho e fraco, como não poderia agir comigo?

Se é que havia até então um personagem chamado Meupai, deixou de existir naquele Sábado de Aleluia.








domingo, 5 de agosto de 2012

Moral cristã 2

A vendedora olhava muito atentamente, enquanto eu escolhia:
- Qual o valor dessa toalha? - perguntei.
- Essa da Hello Kitty?
- Sim, essa mesmo.
- Está em promoção: catorze reais.
- Por favor, eu vou levar essa e aquela ali, do Homem Aranha.
- Eu tive uma experiência com a Hello Kitty!
- O quê?
- Eu sou da Assembleia de Deus. O pastor tinha avisado, mas eu não tinha dado ouvidos.
- Ah, tá...
- Eu tive uma experiência com o Incrível Hulk, também!
- Sério?
De repente entrou a dona da loja, que estava nas proximidades, e a moça olhou-a como que ressentida:
- É, mas aqui eu sou vendedora e não posso falar sobre nada disso.
- Rs, claro! É cartão de débito!

Moral cristã 1

A senhora se aproximou de mim logo que saí da farmácia. Estava bem vestida, lenço novo na cabeça. Lembrava minha mãe quando tinha cinquenta:
- Minha filha, me dá uma ajuda, pelo amor de Deus! (E apontando o dedo para o alto): Ele é testemunha de que eu não estou mentindo! Pode acreditar em mim, em nome de Deus! Eu preciso do dinheiro pra comprar um remédio pra uma doença grave que eu tenho. Eu não te mostro a receita porque eu compro sem receita, com a graça de Deus! Então eu vou pedindo e juntando um pouquinho aqui, outro ali...
Tive de interrompê-la abrindo a porta do carro e depositando lá os pacotes que trazia, para poder apanhar o dinheiro na bolsa:
- Aqui está, senhora.
(Pareceu muito impressionada com a quantia, um pouco maior que a de costume): - Deus te guie, a você e a toda a sua família, minha filha! Obrigada!
- Por nada.
(E enquanto eu entrava no carro): - Minha filha, você mora aqui perto?
(Pela janela): - Moro sim, senhora; por quê?
- Por nada não, minha filha. É que eu sou da Assembleia de Deus. O pastor de vez em quando me dá dinheiro pra comprar os remédios, mas ele não pode me dar todo mês porque ele é inspirado por Deus, então... Eu vou pedir uma oração pra você. Você é católica, né?
- Não, senhora!
- É espírita?
- Não.
- Você é o quê, então?
- Eu não acredito (virei a chave).
- O quê?
- Eu não acredito em Deus, senhora.
(Batendo uma mão fechada na outra, espalmada): - Pois você é que está certa!

Boda de lata

The end
of
the Bup.

Carta aberta 10

H. querido,
o tempo ajeita todas as coisas - para melhor ou para pior.
Entendo e concordo.
O problema é que eu sempre gosto de optar,
eu sempre acho que tenho que tentar, tenho que fazer coisas e
desconfio muito dessa espera.
Como alguém pode querer esquecer?
Como se pode esperar pelo nada, pela ausência da intensidade...
Não lhe parece um tipo de suícidio?
(Sim, era meu o CD da Sade.
Depois de oito (?) anos, acho que já é seu.
Que bom que gostou!)
Claro: manteremos contato.
Beijos,
A.

sábado, 4 de agosto de 2012

Carta aberta 9

Heitor,
o livro acaba de chegar, obrigada! Pus na minha cabeceira.
Vou ler assim que possível. Teoria e crítica eu gosto de ler devagar, lápis na mão, rabiscando.
Sim, "Bravos companheiros e fantasmas" é uma expressão de Nietzche e agora nomeia o Seminário sobre o autor capixaba. É bianual, está na quinta edição e acontecerá no final do mês, praticamente coincidindo com a sua defesa de tese.
Desta vez serei apenas ouvinte, apesar do convite tentador do RSN para compor a mesa sobre a obra de Sérgio Blank, o poeta que eu quis ser quando estava na universidade
- saudade.
Mário de Andrade.
O turbilhão me tomou, acabei não escrevendo nada. Agora estou achando que, de verdade mesmo, não foi o meu estado que me impediu de produzir. Pôr para fora até que não tem sido difícil. Acho que foi o contrário: eu fugi de reler Pus, o livro com o qual trabalharia, porque ele me machuca feito um espinho e pode ser que me empurrasse de volta à condição inicial. Estou me protegendo: não sucumbirei.
Tenho ouvido mais Piazzolla. E você?
Beijo,
Andrea.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carta aberta 8

Heitor,
você é sempre, em tudo, meio ambíguo.
E eu digo meio porque é preciso ser meio, para ser verdadeiramente ambíguo.
Escolhe o miolo da mensagem, o centro irradiador das intenções e lança lá:
"E o que dizer, hein?".
Ora, eu também não sei, não saberia o que dizer numa situação dessas...
O que dizer, como dizer, a quem dizer... Dizer?
Essas questões nos perseguem e tudo indica que será sempre assim.
Concordo em que a literatura tem funções ainda inexploradas.
Por enquanto estou contente com que me salve de uma ainda mais vã passagem do tempo.
Eu sei que você me entende. São plurais nostalgias dos tempos ricos - adjetivos.
Beijos,
Andrea.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Carta aberta 7

Sim, Heitor,
alguma tristeza faz parte do processo.
Trata-se de uma despedida, também -
apenas para retomar o tema inicial das nossas mensagens.
É aquele mesmo o poema que eu tinha abortado.
Recuperei-o do limbo e dei à luz.
E você sabe: um aborto ou um filho - os dois são para sempre.
(Quem me deu as notícias - incertas, então - de sua nova civilidade foi Áurea).
Beijo,
Andrea.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Carta aberta 6

Heitor,
acho que confundi as datas.
Pensei mesmo que a sua defesa fosse no final de julho, e não de agosto.
Agora começa o mês de outra angústia, diferente: entrega-se a tese e inicia-se,
imediatamente, a ansiedade pela defesa.
Mas não digo para apavorá-lo, claro; apenas me identifiquei com a situação.
Você deve ficar o mais tranquilo possível: eu o vi falando em Maringá: é encantador.
Agradeço pelo convite. Gostaria muito mesmo de ir, mas por agora é difícil um deslocamento.
Saudades também.
Beijos,
Andrea.
P. S.: Desculpe-me pela Carta aberta 4: nos marcadores havia escapado seu último sobrenome. Acabo de corrigir.