Vitória, ES. Foto: Humberto Capai.
Ontem à tarde nossa mudança chegou a Bento Ferreira. As conclusões
eram muitas, e quase nenhuma inédita: não precisamos de tantos
objetos; ainda não nos livramos de tudo o que podíamos; foi uma
besteira levar os livros para Brasília etc.
Eu pensava nesses excessos enquanto desembrulhava louças jamais
utilizadas. Cheguei à janela sorvendo os ares do bairro novo,
tentando interiorizar aos poucos a vista sempre em mutação da
grande cidade. Me deparei adiante com o morro do Jaburu. Vi-o
primeiro como um todo, um bloco monolítico que somente o tempo fará
com que meus olhos desvendem um pouco mais, sempre um pouco mais e de
um modo sempre incompleto. Percebo que o espaldar da janela brilha de
minério de ferro; meus braços ficam marcados. Espero que não se
crie depósito nos pulmões em formação dos meus pequenos gêmeos.
A visão onipotente das avenidas principais desse lado da cidade já
iam me absorvendo dos pequenos devaneios domésticos. Com o olhar
segui as mulheres voltando a pé do trabalho para o outro morro nosso
vizinho, cujo nome ainda não descobri. Uma ameaça de chuva fez
surgirem sombrinhas desbotadas em variados pontos. O rapaz da barraca
de galetos encheu-se de dúvidas sobre o destino daquela tarde de
comércio: olhou o céu, olhou a rua, o movimento, e resolveu
desarmá-la, privando a todos do cheiro bom que já chegava ao oitavo
andar.
De repente, olhando o bairro do alto, lembrei que estava bem próxima
de um ponto de empatia, entre os meus eleitos pelos cantos de
Vitória: a livraria Lógos da Praia do Suá, praticamente ao lado de
casa, a partir de agora. Adiei a arrumação das taças e resolvi
descer até lá, a ver se me sentia acolhida pela vizinhança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário