quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Insônias paralelas


John Constable: Seascape study with rain cloud.


E as paralelas dos pneus n'água das ruas
são duas estradas nuas
em que foges do que é teu.
No apartamento, oitavo andar,
abro a vidraça e grito quando o carro passa:
Teu infinito sou eu.

(Belchior)

A chuva canta lá fora
o canto da minha infância,
o som da infância do mundo.

No quarto morno e seco,
o silêncio mergulha
em funda escuridão.
As crianças dormem tranquilas,
enroscadas aos seus cobertores,
feito gatos.

Há horas nenhum carro
imprime no asfalto
as sonoras paralelas...

O bairro imerge no nada -
é o fim do fim de semana.
Hoje não houve gritos,
nem mesmo ladraram os cães.

O mundo todo, oceanos, planetas -
tudo repousa em sua própria órbita.

Só eu faço aeróbica sobre o colchão,
ampliando as hérnias de disco
enquanto solfeja ao meu ouvido
um demônio recém-despertado.

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