Penedo. Vitória, ES. Foto: Luiz Antonio. Fonte: http://olhares.uol.com.br/penedo-vitoria-es-foto2972824.html?nav1
Ao eco um tanto soturno das últimas palavras de Renato Pacheco seguiu-se um rápido silêncio, em que pareceu refazer-se daquela espécie de transe, logo após o qual o seu sorriso aconchegante tingiu-lhe o rosto de branco e rosa, como se tudo tivesse se passado num milésimo de segundo, e ele ficou igualzinho à caricatura de David Liebke.
Sorri também e fomos caminhando para o sol lá fora. Dobramos a calçada em direção à avenida Beira-mar e seguimos: eu, adiante; ele, cavalheiresco, sempre um pouco recuado. Notei que trazia ainda o tal livro, e como sua leitura me deixara com o espírito digamos, um tanto literário, resolvi falar sobre o que estava escrevendo para, quem sabe, colher suas preciosas sugestões.
Fui transpondo as calçadas irregulares da minha nova morada - pedra, buraco, raiz de árvore - e dizendo das lendas capixabas que pesquisaria para depois lhes dar, em conjunto, um tratamento ficcional. Mesmo de costas, podia vê-lo balançando a cabeça afirmativamente. Falei dos Botocudos e suas Esmeraldas, da Fada do Penedo, do Pássaro de Fogo, do Frade e da Índia. Disse ainda do adendo que formariam as outras lendas, urbanas. Mestre Renato ouvia a tudo, calado. Já em frente ao Hortifruti, um pouco insegura e incomodada com minha própria fala sem fim, virei-me para ver se seu rosto denotava real aprovação do meu projeto, e percebi que ele já não estava.
O livro no entanto ficou num canto da calçada, perto de uma placa de propaganda de telefone celular e trazia ainda o marcador da livraria, justo na página central, como eu imaginava. Ali tinha início a história dos cegos.
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