Praia de Camburi. Vitória, ES, 1969. Fonte: http://fotosantigasdevitoria.blogspot.com.br/
Enquanto o ouvia, pensei por vezes: por que escolhera justo
aquele texto para me oferecer neste nosso reencontro? Teria sido
puro acaso? E logo agora, quando ando em apuros com a visão... De
todo modo, lia como um cego, ou um iluminado, falando como se as
palavras lhe brotassem da boca sem o mínimo esforço. Estou certa de
ter ouvido pelo menos umas vinte páginas, retiradas todas como que
do centro inerte da folha.
E o conto se encerrava assim: “Havia sombras muito misteriosas na
garganta, o azul se aprofundando para o púrpura, e o púrpura para
uma escuridão luminosa, e lá em cima estava a ilimitada vastidão
do céu. Mas ele não mais prestava atenção nessas coisas; ficou
bastante quieto por ali, sorrindo como se estivesse satisfeito
simplesmente por ter fugido do vale dos cegos, no qual tinha pensado
ser rei. O brilho do pôr-do-sol passou, a noite chegou, e ele ainda
estava quieto, deitado, em paz e contente sob as estrelas frias e
claras.”
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