A senhora se aproximou de mim logo que saí da farmácia. Estava bem vestida, lenço novo na cabeça. Lembrava minha mãe quando tinha cinquenta:
- Minha filha, me dá uma ajuda, pelo amor de Deus! (E apontando o dedo para o alto): Ele é testemunha de que eu não estou mentindo! Pode acreditar em mim, em nome de Deus! Eu preciso do dinheiro pra comprar um remédio pra uma doença grave que eu tenho. Eu não te mostro a receita porque eu compro sem receita, com a graça de Deus! Então eu vou pedindo e juntando um pouquinho aqui, outro ali...
Tive de interrompê-la abrindo a porta do carro e depositando lá os pacotes que trazia, para poder apanhar o dinheiro na bolsa:
- Aqui está, senhora.
(Pareceu muito impressionada com a quantia, um pouco maior que a de costume): - Deus te guie, a você e a toda a sua família, minha filha! Obrigada!
- Por nada.
(E enquanto eu entrava no carro): - Minha filha, você mora aqui perto?
(Pela janela): - Moro sim, senhora; por quê?
- Por nada não, minha filha. É que eu sou da Assembleia de Deus. O pastor de vez em quando me dá dinheiro pra comprar os remédios, mas ele não pode me dar todo mês porque ele é inspirado por Deus, então... Eu vou pedir uma oração pra você. Você é católica, né?
- Não, senhora!
- É espírita?
- Não.
- Você é o quê, então?
- Eu não acredito (virei a chave).
- O quê?
- Eu não acredito em Deus, senhora.
(Batendo uma mão fechada na outra, espalmada): - Pois você é que está certa!
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