terça-feira, 18 de agosto de 2009

Eu me sonhei...

É curioso o modo como as pessoas referem a matéria sonhada. Jô, minha fiel escudeira, usava, para narrá-la, um delicioso "diz-que", resolvendo desse modo a questão da irrealidade: "Diz-que eu estava numa praia bonita toda vida. Foi quando ele chegou e me entregou o tal embrulho..." Provindos de mamãe, os relatos oníricos sempre me intrigavam com a introdução totalmente inusitada: "Eu me sonhei que a água do poço vinha até a porta de casa...", transformada, depois de décadas de uso, em uma fórmula para mim ainda mais misteriosa: "Eu fiz um sonho em que era criança novamente, e nele minha mãe aparecia bem jovem...". Quando comecei a concluir sobre o "me sonhei", a partir das considerações de freud de que os personagens dos nossos sonhos somos sempre nós mesmos, ela me chega com a atividade insuspeitada do "eu fiz um sonho". Como assim, perguntei uma vez. E ela, renitente na sua simplicidade arguta: "Quem foi que fez, então, se só havia eu mesma na cama?"

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