domingo, 31 de março de 2013

Gente

- Mamãe, não é que a gente é a comida da terra?
- É sim.

sábado, 30 de março de 2013

3 D


Salvador Dalí: Construção mole com feijões cozidos.
 
Eu assistia à exibição das imagens em três dimensões. A enfermeira me ofereceu pipocas. Na tela, uma pequena ferida cor de jambo aparecia na altura do esôfago e crescia a olhos vistos, em tempo real. O jogo de cores era fascinante. Ela me fazia acompanhar cada nova imagem por meio do ponteiro luminoso que empunhava. Era terrível seguir com os olhos a doença evoluindo fora de mim, em imagens cercadas de efeitos especiais, o que tornava a sensação ainda mais dolorosa. A mulher parecia se divertir com seus magníficos instrumentos, enquanto eu começava a ter espasmos de náusea perante a prova inexpugnável da minha desgraça. Num ímpeto virei-me para a esquerda, tentando escapar à visão detestável, mas lá estava uma nova tela branca, em que começava a ser exibida uma nova radiografia, desta vez do meu seio, de perfil.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Notícias da Sexta-feira da Paixão

Não, não é ironia do Destino,
é palhaçada do Acaso:
a quadrilha de Drummond está completa!

Tio S. acaba de morrer.

Os celulares todos viajando,
mamãe pede que avise aos familiares.
Que assunto colocar no e-mail?

Uma náusea desse cheiro de torta!
Da janela vejo um guarda em cada esquina.
Terei de beber perto de casa.

So easy

- Mãe, eu quero te dizer uma coisa que eu aprendi numa música, na aula de inglês.
- O quê?
- Nem sempre é so easy se viver...
- !

Exames


Joan Miró: The flight of the dragonfly in front of the sun.
 
 
 
 
Terminados os exames, o médico, sem desviar os olhos da prancha de radiografia, lançou: “Infelizmente, hoje eu não tenho uma boa notícia para lhe dar!”. Eu continuava sob o efeito do Valium, por isso o seu desígnio não me abalou. Foi até a mesa, cotejou as pranchas com as suas anotações e disse que, na semana anterior, o meu estômago estava ótimo, róseo como o de uma criança, mas que agora... Não concluiu a frase, nem eu me importei com isso; não havia ansiedade nem medo. Perguntei se indicaria remédios, e ele, sempre com os olhos distantes, balançou negativamente a cabeça de esfinge, enquanto rabiscava qualquer coisa numa folha. Estirou o braço, ainda sem me olhar diretamente, e entregou-me um papel timbrado, enquanto já retirava da estante algumas amostras grátis em cujas tampas ia anotando horários e doses, sem dizer uma palavra. A cena começou a me impressionar. Ao sair, sem um gesto ou palavra de despedida, disse somente que esperasse sua auxiliar, que me faria uma rápida exibição dos resultados.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Carl Fredericksen

- Gente, olha lá... Aquele bonequinho na farmácia não parece o Carl Fredericksen?
- Parecer, não parece não, mamãe, mas é ele!

Na sua

- Por que você sempre tem que me contrariar, minha filha?
- Porque eu não concordo.
- E será que nem uma vez você consegue ficar na sua?
- Não, eu não quero. Eu quero ficar na sua.

quarta-feira, 27 de março de 2013

No céu da boca


Joan Miró: Blue II.
 
Eu tinha ido apanhar o resultado de uma radiografia. Estava apreensiva, achando que descobriria algum problema, e pensava: a cabeça foi o único órgão que releguei ao esquecimento. Por que a negligenciei? Constantes exames de todas as outras partes, e ela abandonada há tanto tempo! Antes que o envelope fosse aberto, sugeri ao médico que fizesse logo uma tomografia. Pareceu-me ver o desenho de um tumor oval numa das chapas que ele analisava à minha frente, diante de um foco de luz. O homenzinho não conseguiu esconder sua preocupação com o que viu. Disse imediatamente, como se a doença tivesse sido previamente diagnosticada: “O tumor já se expandiu do céu da boca para a área superior da cabeça”. Ia falando e perfurando o papel com um palito grande, de madeira. Era como uma fotografia colorida e lá estava a mancha. Comecei a imaginar, desesperada,  o que faria para controlá-la. Ele disse que usufruíamos de medicamentos fortes, hoje em dia. Tive medo dos efeitos colaterais.

terça-feira, 26 de março de 2013

Futuro assistente

- Mãe, quando eu crescer, eu quero ser seu assistente.
- Em quê, meu filho, em quê?
- Ahn... em tudo: eu posso ler pra você, dirigir pra você, pentear os seus cabelos...

Haikai climático

 
  
 
 
 
 
 
 
No último instante
os olhos imploram,
a boca obriga.









 

segunda-feira, 25 de março de 2013

O Corcovado, o Redentor, que lindo!


Sonho causado pelo vôo de uma abelha ao redor de uma romã um segundo antes de acordar.
 
 
Interrompeu-se abruptamente o "Samba do avião". Algo pareceu trepidar. Estávamos todos já de pé no corredor quando o piloto anunciou, numa voz gravíssima e ainda arranhada pela guturalidade que, para disfarçar o pouco domínio do idioma, imprimiu à primeira versão do texto, dita em inglês: “Senhores passageiros, os senhores não vão acreditar, mas teremos de fazer um pouso forçado... Estamos agora a trinta mil pés de altitude e sobrevoamos o Rio de Janeiro! São vinte e uma horas e doze minutos na Cidade Maravilhosa. A temperatura local é de 30 graus centígrados. Os que estiverem do lado esquerdo do avião poderão apreciar a belíssima vista do Corcovado. Tenham todos uma ótima viagem e obrigado por voarem conosco!” O tom era ao mesmo tempo funéreo e jocoso, mas achei melhor não perder tempo em cogitações. Olhei pela janela e constatei que não adiantava pôr o equipamento de segurança, despencávamos numa velocidade inimaginável. Havia muitas crianças no avião. No instante seguinte já recolhíamos os corpos espalhados pela praia. Pedaços da fuselagem flutuavam no mar e a sensação de desgraça era grande, mas eu estava feliz por ter escapado. Foi então que concluí: ter escapado desta torna apenas mais óbvio que de uma próxima não escaparei.

domingo, 24 de março de 2013

Trocas

Gaughin: Duas mulheres haitianas.
 
- E se eu fosse você, e você fosse eu? Eu seria mãe da minha mãe?

Vida 3

- Mãe, seria bom se você fosse eu.
- É? Por quê?
- Porque a vida que está em mim é muito boa!

Haikai marinho


 
 
 
 
 
 
 
Profundo do mar:
sem você é tão escuro,
pra quê enxergar?









 

O gesto maquinal do adeus


Candido Portinari: Mulher chorando, 1944.
 
Meupai mostrou acima, do lado direito: Olha aquilo! Estávamos entre a praia e a selva, e a água vinha, incrivelmente, deste lado, e não daquele. Era uma onda gigantesca e chegava sorrateira por sobre as árvores. Percebemos logo que ela nos afogaria. E veio descendo da mata, trazendo troncos e ramos. Num platô lá em cima vi a moça num maiô preto, me acenando com uma expressão suave de quem não via a água. No instante derradeiro pensei sobre que gesto lhe faria de volta, talvez um aviso que sabia inútil, naquele último momento, a onda crescendo por detrás dela, pronta a desabar com força, arrastando tudo. Pensei em acenar com a mesma serenidade, preservando-lhe a alegria até o instante final e levando comigo, para o nada, aquele momento de graça ingênua em meio ao caos. Enquanto erguia a mão para o gesto maquinal do adeus, percebi a inutilidade daquele ou de qualquer outro gesto, ou mesmo de gesto nenhum, já que para nós não haveria a memória sequer de nada disto. Foi o instante em que tudo desabou e ao qual somente eu sobrevivi. Agora eu procurava alguém, farejando os escombros, escavando a terra com as unhas. Passei um dia inteiro gritando e auscultando o solo. A garganta já me doía de tanto gritar. Ninguém apareceu.

sábado, 23 de março de 2013

Duas coisas

Candido Portinari: Pipas, 1941.
 
- Mãe, eu só queria saber duas coisas.
- Sim...
- Por que a gente nasce e o que é a eletricidade.
- Nossa Senhora! A segunda o tio Alex explica.
- E a primeira?
- A primeira eu acho melhor você descobrir sozinho!

lua cheia






em meio a tanta estrela fria
um dvd
candente









 

sexta-feira, 22 de março de 2013

No consultório


Salvador Dalí: Sleep.
 
Entrei no consultório e sentei-me. O médico, entediado e de olho nos próprios rabiscos, ia fazendo perguntas previsíveis, a que eu respondia desesperada, sobre quando o meu cabelo teria começado a cair, que quantidade eu perdia por dia. Parecia não ter levado a sério o meu relato inicial. Sorria, dizia que era normal perder até sessenta fios por dia. Acrescentei que perdia muito mais que isso a cada vez que penteava os cabelos. Chamou um outro homem de branco, que apresentou como sendo odontólogo. Este se sentou de modo oblíquo numa terceira cadeira, sem que ficasse de frente para o colega nem para mim, e ambos iam trocando frases cifradas e repletas de erros de português, enxertadas de termos técnicos mal utilizados e cuja significação supunham que me fosse estranha. Sorrindo como canastrões enquanto faziam suas cadeiras circularem sobre as rodinhas, pareciam querer incutir medo. Do fundo do meu próprio drama, eu relevava a qualidade do seu péssimo teatro, mas a angústia crescia e a lembrança de quanto cabelo vinha perdendo já me dava receios de tocar a cabeça. Os dois tinham a aparência de índios bolivianos e a luz rarefeita da sala criava um cenário de encontro da máfia. Eu não entendia muito bem qual a função do dentista ali, mas notei que tinha posto a cadeira numa posição em que formava uma linha, perpendicular à porta, com as outras duas, onde estávamos sentados o médico e eu. Pareceu-me um sinal de que, se desejasse sair, livrando-me do médico, teria de passar, obrigatoriamente, pelo dentista. Por um momento tentei me lembrar se estaria perdendo também os dentes. Diante da minha insistência em que me caíam fios demais, o médico pediu que lhes mostrasse. Soltei os cabelos, que usava num rabo de cavalo, e passei a mão pela cabeça, trazendo preso nos dedos um tufo que, enfim, assustou os dois homens.

Página II

- Mãe, quando a gente morre, sai uma página do corpo?
- ?

lua nova

 


 
 
em meio a tanta estrela fixa
 
um dvd
cadente









 

quinta-feira, 21 de março de 2013

retrato (tradução)

Van Gogh: Autorretrato.
 
alguém me procurou,
que falasse de mim.

mandei buscar você.

diga tudo o que não sabe,
faça o meu melhor retrato.

Tradução do poema "πορτρέτο", do poeta grego Νικόλας Άρης.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Umbigo ambíguo

Flora salta.
 
- Eu preciso de você, mamãe!
- Eu também, minha filha, eu também!

Elementar 2

- Mãe, você já reparou que eu adoro fechar os registros?
- Já. Por que você faz isso?
- Porque eles estão sempre abertos!

No escuro da noite

- Mãe, eu posso dormir com você?
- Pode, deita aqui. O quê que foi? Pesadelo?
- É, fala aquilo de novo, mãe, me manda pensar em coisas boas.
- Pensa só em coisas boas que você dorme, meu filho!
- Tá bem, mãe, eu vou pensar em flor. Flor é coisa boa?
- É, é ótima!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Caranguejos

Francisco: Tsunami na Terceira Ponte.
 
- Que bonito, meu filho! Você que fez?
- É, eu sou pintor!
- E o que é isso?
- Um tsunami na Terceira Ponte.
- E os carros?
- A água engoliu.
- E as pessoas?
- Também. Mas fica tranquila que os caranguejos escaparam!

domingo, 17 de março de 2013

Entre a paixão e a razão


Liu Bolin: Invisible man.
 
 
 
Sob que máscara retornará o recalcado? (Adriana Calcanhotto/ Waly Salomão)


A mulher tem que decidir rápido: O que é leptospirose? Um jogo de cartas, uma doença ou um tipo de dinossauros? Se errar, seu pai e sua mãe serão atirados numa banheira com água fria. Ela responde, com voz débil e a face tomada pela expressão ambígua dos que adiantam mentalmente, a um só tempo, a miséria do erro e a felicidade da vitória: um tipo de dinossauros. O pai e a mãe descem incontinenti um tubo gigante de PVC e caem na banheira, que fica bem no centro do palco. A platéia se alvoroça. O apresentador se afasta rindo, o rosto curvado sobre o tronco, simulando grande divertimento com a cena. O casal de meia idade se ergue ensopado, acenando para a câmera e rindo.

O jogo continua!, exclama o apresentador. Segunda pergunta, Sandra. Atenção, muita atenção! Esta pergunta pode definir o jogo! São dez mil reais! Atenção Sandra, qual é a capital do Estado do Ceará? Sergipe, Teresina ou Fortaleza? Ela tem sessenta segundos para decidir. Sua testa brilha de suor. A platéia não deve assoprar, mas se ouvem ao fundo vozes titubeantes gritando ora Sergipe ora outro nome quase inaudível. O tempo se esvai, soa o sirene, ela tem de responder. Arrisca então: Teresina. O apresentador balança o tronco e improvisa umas interjeições, enquanto olha, por segurança, a ficha à mão: A resposta está êêê... está êêê... O público, exaltado pelas faixas que o assistente de palco ergue, exclama: êêê... xata. O apresentador dobra o corpo numa gargalhada convulsiva e em seguida exclama: resposta êêê... rrada! Todos riem e aplaudem, alguns assobiam. A mulher é lançada num caldeirão repleto de animais peçonhentos e por alguns segundos sustém em close um riso indecifrável. O foco segue rápido para a platéia e retorna ao apresentador, que anuncia de modo efusivo: A família adversária vence o jogo por dois a zero! Muitos aplausos para a família Soares! Os membros da família vencedora se abraçam e pulam freneticamente, cantando o refrão do hit do momento: “Chuta minha cabeça! Chuta minha cabeça!” O apresentador chama o intervalo comercial.

É ele mesmo quem fala, e tem agora um tom sério de quem dirá algo importante, parece outra pessoa: Neste momento eu quero me dirigir a você, papai, a você, mamãe, que está assistindo ao nosso programa (com um riso um pouco surdo, dá à fala, a partir de um ponto claramente pré-determinado, um tom informal, descontraindo também o cenho): É com muito orgulho que eu apresento a vocês, meus colegas que há tantos anos acompanham o nosso trabalho, uma novidade - o Bebê Dodói. Aproxima-se da mesa prateada sobre a qual está o boneco, um garoto loiro de olhos azuis e fixos. A assistente de palco, sorridente, lê as características do brinquedo: De material resistente, o Bebê Dodói vem com seringa, tesoura e máscara cirúrgica, além de um termômetro, uma pinça e um aparelho para examinar o ouvido. É recomendado para crianças a partir de três anos de idade.

Parece comigo, pergunta o apresentador, parece? A moça, sempre sorrindo, faz um sinal afirmativo com a cabeça. Pois pode separar dois lá pra casa, ele acrescenta. E fica com esse, que eu vou te dar no dia das crianças. A moça seminua abraça e beija o boneco com afetação, contorcendo o tronco para um lado e a cabeça para o outro.

Tem início a segunda parte do jogo das famílias. Capturam um meio close do apresentador, que assume agora uma carranca sisuda de preocupação. A mulher, ainda ajeitando a roupa úmida, esconde nas mãos o rosto inflamado pela emoção reprimida. É a parte do programa em que o perdedor tem uma última oportunidade e quando a platéia parece verdadeiramente envolvida. O apresentador anuncia: Agora, Sandra, valendo a realização de um dos dois sonhos que você narra na sua carta... entre a paixão e a razão... responda, Sandra (o tom da voz vai subindo), entre o coração e a necessidade... o que você escolhe, o sonho dos seus filhos, que é fazer compras no supermercado, ou o seu, que é mobiliar a casa?

Ela fala com a voz estrangulada pelo choro: Na verdade, para mim a felicidade era ver os meus filhos entrando num supermercado, mas eu não aguento mais os coleguinhas deles indo lá em casa e não tendo um lugar pra sentar.

Música de tambores e trompetes. Uma porta gigante se abre por detrás do palco. Sobre uma mesa dourada se destaca a plaqueta com a marca Confiança. A mulher cai em choro convulsivo, seus pais e seus filhos entram para abraçá-la. O garotinho menor corre e segura a perna do empresário, que se aproxima num terno italiano. Em seguida é retirado pela avó.

O empresário recebe um microfone. Tem voz de barítono: A micro-empresa Móveis Confiança tem o prazer de anunciar que vai estar dando a você, Sandra, e a toda a sua família, uma mobília completa, de fabricação própria e primeiríssima linha, para você não ter mais de estar se envergonhando quando receber visitas.

A tela se divide, para o telespectador. A música ao fundo é dramática. Do lado direito, o interior da loja de móveis, repleta de sofás, camas e armários. Do lado esquerdo, a casa de Sandra - um cômodo sem reboco -, mobiliada apenas com um fogão e um beliche. O apresentador agradece ao micro-empresário, que se retira sob fortes aplausos. A mulher parece aguardar mais algum acontecimento. Uma das assistentes a guia para fora, seguida da família.
 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Conversa na banheira

- Mãe, você tem namorado?
- Não.
- E por que você não tem namorado, pergunta Francisco. Você não gosta de ninguém?
- Rs, gosto. Eu gosto de uma pessoa, mas ela não gosta de mim.
Agora muito sério, de olhos arregalados: - Não gosta de você? Por que ela não gosta de você? Ela não sabe que você é linda?
- Não, rs, não sabe.
- São os óculos!, Flora intervém, enérgica. Você precisa tirar os óculos! Põe as lentes de contato! E tem que usar a maquiagem inteira: sombra, blush e batom! E também vai pôr um vestido! Você vai ver que ele vai te abraçar e te beijar na boca!
- Rsrsrsrsrs...

quinta-feira, 14 de março de 2013

pecado nada original

 
 
  
 
 
 






 


quarta-feira, 13 de março de 2013

Futuro 3

Wassily Kandinsky: Sky Blue.
 
- O futuro é igual àquela bola?
- Que bola?
- Aquela bola que eu gostava mais - lembra?
- Não, não lembro.
- A bola verde que eu ganhei na festa do Pedro. A gente encheu, encheu, encheu até ela ficar mais bonita, e quando ela ficou mais bonita ainda, ela estourou.

Futuro 2

Wassily Kandinsky: Movement I.
 
- E como a gente sabe as coisas do futuro?
- A gente não sabe.
- Como a gente descobre que elas vão acontecer?
- A gente pensa que elas vão acontecer, mas certeza a gente não tem.

Futuro 1

Wassily Kandinsky: Several Circles.
 
- Futuro é o que, mãe?
- As coisas que ainda vão acontecer.
- Ahn... a aula de natação?
- É, se o professor não faltar.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Amor

- Mãe, eu amo a vovó.
- Que bom!
- Mas quando você está em casa, eu amo você!

Profissão 2

- Mãe, a professora perguntou qual vai ser a minha profissão, quando eu crescer.
- Han... E você disse o quê?
- Que eu quero ser lavadora de carros!
- Boa resposta.

Trânsito

Kate Macdowell: Escultura em cerâmica.
 
- Pode passar, vovó. Não precisa ter medo, que os carros não atropelam velhinhas!

sábado, 9 de março de 2013

Bolacha

- Ainda tem bolacha, mãe?
- Oh, que novidade é essa? Você não fala mais biscoito?
- Meu pai me ensinou: bolacha é biscoito em alemão.
- Ahahahahah.

Intuição

- Mãe, está vendo aquele menino sentado ali?
- Sim.
- Ele não tem pai; só cachorro.
- Como você sabe?
- Pelo olhar dele eu percebi isso.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Possessão (tradução)

Arcimboldo: Portrait of Adam
 
seu olho no meu olho suas garras na minha nuca minhas ... nas suas costas seus dedos no meu braço minha língua na sua ... seus dedos nos seus ... seus dentes nos meus mamilos meus ... na sua pele seu braço na minha ... meus seios nas suas ... seus ... no meu ... minhas unhas na sua carne sua ... entre as minhas pernas minha ... na sua boca seu ... nas minhas ... minha ... na sua ... seu ... na sua mão meu ... na sua mão sua ... no meu ... minha ... na sua ... sua ... entre os meus lábios meu ... no seu ... sua mão na minha ... minha língua entre os seus ... seu ... na minha boca meu olho no seu ... sua voz nas minhas ... meus dentes na sua carne seu ... no meu olho meu sexo na minha ... seu ... no seu ... meus ... no meu ... seu queixo nas minhas ... meus ... no seu ombro seu pé no meu ... meu cheiro na sua pele suas ... nas minhas coxas meu suor na sua ... seus ... nos meus cabelos meu ... na sua ... seu cheiro na minha pele minhas pernas entre os seus braços sua ... nos meus ... meus ... nos seus ... seu ... no meu ... minha mão entre as suas ... seus ... nas minhas ... meu ... na sua ... seu ... no meu ... minhas ... no seu ... sua voz na minha boca meu ... no seu ... seu ... no meu ... minha ... na sua ... seu ... na minha ... meus ... nas suas costas seu pé na minha ... meu ventre no seu dorso seu ... no meu ... meu ... no seu ... meu sangue na sua ... seu pé no meu ... meu pé no seu na sua minha mão sua seu pé minha mão sua!

Tradução fidedigna da tradução mexicana da tradução indiana da tradução russa de "Possessão", texto da escritora brasileira Aléxia Bógus.

terça-feira, 5 de março de 2013

Almoço

- Por que comer feijão e arroz puros?
- Nenhum dos dois está puro. Estão misturados.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Biscoitos

Flora, diante dos pacotes de biscoito recém-chegados do supermercado:
- Ôôôôôôba... porcariiiiiia!

Ouroboros II

Boa noite,
Insônia!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Ouroboros

Bom dia,
Insônia!