sexta-feira, 4 de junho de 2010

Me conserta!



A estrutura frasal vai sendo aprimorada, mas ainda está longe (quiçá) de chegar perto da norma! Assim, o "Me ajuda!" inicial se ampliou para o "Me conserta!" e, depois de algumas risadas dos adultos, foi enfim acrescentado um providencial "pra mim". Agora ouço coisas assim: "Me abre pra mim, mamãe!"

Com a ampliação dos verbos, flora começa a confundir aqueles que possuem sílabas iguais; troca "segura" por "mistura" e "conserta" por "consegue". Demorei um pouco a perceber isso, quando chegou a mim com o guardassol: "Me mistura pra mim, mamãe!" E depois, com a boneca sem perna: "Mamãe, me consegue pra mim!". E como usa bem o imperativo, rs!

Enquanto isso, francisco se empenha admiravelmente em melhorar a pronúncia de alguns termos. Vez ou outra se posta bem à minha frente, fixa os olhos nos meus lábios e lança a palavra sobre a qual paira alguma dúvida fonética, para que eu o auxilie, pronunciando-a corretamente, o que já se tornou uma deliciosa rotina lúdico-pedagógica. Foi assim, da primeira vez, com o "fapo", ao qual transformamos em "sapo" em apenas duas ou três repetições...

Esta semana, do fundo de sua alminha teatral, que não se contenta em responder à pergunta sobre que barulho faz a onda do mar quando bate na pedra com apenas uma onomatopéia, repetindo-a incessantemente (como o próprio mar) e jogando o corpo junto com o "tchá", "tchá", "tchá", sempre para um mesmo lado e com os olhos abertos como os de um peixe à deriva, saiu-me de repente com uma frase longuíssima, surpreendendo com o uso tão precoce do pronome relativo: "Na casa do papai tem um bicho esquisito que abre as asas e voa lá para fora."

Outro dia ainda me encarou muito sério, quase triste, e soltou, comoventemente, entre a exclamação e a pergunta: "Mamãe, me ama!?" Só depois lembrei que provavelmente estava se referindo a quando me debruço sobre eles fazendo-lhes cócegas, brincadeira que quase sempre termina em declarações de amor de nós todos.

Interpretar o que pode vir a ser cada termo, cada uso, cada contexto ou neologismo que trazem é das coisas mais deliciosas que esta fase reserva. Assim a flora, encontrando pelo chão uma fotografia da via láctea: "Olha!... O tempo!" E depois, à noite, concentrada num belo alvorecer waltdisneyano no dvd: "Amanhã!"

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