sábado, 11 de junho de 2011

A moto verde

Quando eu sei, respondo. E são dez, vinte perguntas seguidas, bombardeando a memória e a reserva vocabular. Quando não sei, digo que não sei. Ou então - simplesmente - invento, o que, em geral, torna o jogo mais interessante para mim, também, já que o que importa, primordialmente, é que consigam capturar o adulto para o diálogo, a troca afetuosa.


- Mãe, por que aquela moto é verde? (Respondi a essa da primeira vez em que passamos a pé em frente ao estacionamento, no retorno da escola):

- Porque alguém achou por bem pintá-la assim. Depois eu mesma percebi que a resposta era tola e que, entre tantas possibilidades, eu vinha escolhendo a pior e mais simplória, uma resposta que, se dita a um adulto, poderia ser interpretada mesmo como má resposta. Às vezes se age assim burramente, com as crianças, por fascínio da busca de uma verdade na verdade improvável, e na qual elas nem estão interessadas, afinal esse ainda não é o mundo das provas.

Agora, a cada vez que passamos por ali, melhoro um pouco (ou penso melhorar) o tom e o teor da resposta. Pela pergunta eu posso esperar, porque é infalível.
No primeiro dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque alguém achou por bem pintá-la assim.
No segundo dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque o desenhista que a projetou amava as árvores!
No terceiro dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Porque o pintor achou essa cor bonita!
No quarto dia: - Mãe, por que aquela moto é verde?
- Ah, porque é uma cor que tem muita saída no mercado... Vende bem!
No quinto dia: - Mãe, por que aquela moto não é azul?
- !

2 comentários:

  1. Que delícia!!! Adoraria que eles fizessem essas perguntas pra mim... eu ia inventar um mooooooonte!!! Não sei, será?!?!?!

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  2. Vez em quando eu lembro mesmo de você, nessas horas. Eu também penso assim, às vezes: Ah, hoje eu vou inventar a história mais sensacional. Vai ser surreal. Eles nunca ouviram nada parecido. Na hora H porém desponta uma recepção fria ou outro imprevisto qualquer (crianças são muito imprevisíveis) e lá se vai a Sherazade-Borges-Rosa por água abaixo...

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