terça-feira, 6 de setembro de 2011

São José do Campo Real

Mamãe foi à cidade vender ovos. Desliguei o telefone enfeitiçada com a notícia: a minha velha mãe hoje acordou cedo - como de costume - e levou seis dúzias de ovos até a cidade mais próxima, a uns vinte quilômetros de distância. Vovó vendeu os ovos, crianças. Lembrei-me daquelas primeiras sentenças da antiga cartilha de alfabetização... Mas não se trata de uma frase, apenas. Ela estava contente, sua voz irradiava a contenteza que quase todos hoje desconhecemos: a de poder, por uma ação simples, dar encaminhamento a um produto - e nem foi pelo dinheiro: Eu não podia deixar estragar tantos ovos! As galinhas põem quase duas dúzias por dia! Os ovos da roça têm a gema extremamente amarela e em nada se assemelham a esses quase-de-borracha que compramos no supermercado. Nem se igualam a esses meio-caipiras que compramos como caipiras, por um preço mais elevado. Por que será que não vendem ovos na feirinha de orgânicos? Deve ser pela dificuldade de transportá-los. Mas a velha mãe é zelosa, e o seu comércio, do início ao fim, artesanal. Mesmo o motorista do ônibus que a leva, espera até que acomode delicadamente as pequenas caixas, e todos os outros passageiros acham normal algum atraso. Eles mesmos oferecem ao motorista, cotidianamente, um naco de queijo e uma xícara (esmaltada) de café, sem que ninguém reclame da demora. Absolutamente todos se conhecem pelos nomes, sabem de que padecem os que padecem, quem morreu, quem nasceu... O que importa é que mamãe vendeu os ovos, catados pelos quatro cantos do terreiro - no buraco perto da porteira, nas touceiras do capoeirão, perto da tampa do açude e onde mais aprouve às galinhas improvisar os seus ninhos.

2 comentários:

  1. Em homenagem a sua mãe e às lembranças da infância fiz: muqueca de ovo!

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  2. Ah, delícia... Acompanhe-a de jurubeba e lembre-se de mim. Um abraço muito forte.

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