quarta-feira, 20 de junho de 2012

No restaurante

Chateou-me a fila para que eu pudesse me servir. Irritou-me a falta de educação das pessoas revirando a comida nas bandejas. Incomodou-me a demora na nova fila, para pesar o prato e, por fim, a qualidade da comida. Tive vontade de me levantar e deixar tudo ali mesmo, mas corri os olhos em volta para avaliar se o descontentamento era geral ou se era eu que...

Foi quando vi o garotinho na mesa ao lado. Devia ter uns três anos. Enquanto ele mastigava pacientemente a beterraba que o pai lhe punha na boca em pequenos pedaços, brincava com uma borrachinha dessas que se diz "de amarrar dinheiro", esticando-a entre os dedos.

De cada uma das suas fossas nasais saía um pequeno dreno que subia por detrás das orelhas e que não consegui imaginar aonde chegaria; parecia descer pelas costas, sob a blusa. Obviamente incomodava, o que se notava pelas marcas fundas que deixava na pele. Sua cabeça tinha sido raspada, ao que tudo indica, naquele mesmo dia.

Depois da beterraba, ele mastigou vagarosamente o brócolis e a couve-flor que lhe foram oferecidos, mas, de meio em meio minuto, erguia na mão o guardanapo rude do restaurante barato para secar uma gotícula rósea que lhe escorria do nariz, mas que podia também ser só impressão sua - ou minha.

Sua serenidade me fez enrubescer.

Almocemos!

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