sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sobre Flores azuis (parte 2)

Eu quase posso ouvir a voz dele, o que não é difícil, porque, ao final, descobri, como deve descobrir cada leitor, que aquela voz é minha, e daí me vem a náusea e a vontade - honesta - de chorar. Enfim, ela não é jovem demais para descrever aquilo, mas é jovem demais para estruturar um romance do modo como o estruturou. E aí eu sinto inveja. Ele é inteiro fechado em si, é um universo completo (embora imperfeito), mas que não deixa de se estender até o leitor (numa ponte entre um e outro?, para usar a imagem cara a Carola) - ou de capturar o leitor para a sua trama.

E aquele homem que, do outro lado da cidade, vinha recebendo por engano as cartas des-esperadas de A... Aquele homem que almeja uma mulher que se entregue inteira, que se entregue mais, que seja capaz de simplesmente dar, sem nada esperar... o amor incondicional pelo qual ele anseia de repente se mostra todo ali, na remetente, com seu desprendimento sem fim, a sufocante liberdade de amar, enfim: a outra faceta do amor: o desamor, inconsútil feito o disco de Borges:  um amor que tanto ama que não se deixa mesmo amar. Um amor que pode ser que, paradoxalmente, se baste.

3 comentários:

  1. Andréia, que comentário, ou melhor, análise linda! Verdade! Nós leitores acabamos por descobrir que aquela voz tão estranha e familiar (Freud) é a nossa própria voz! Concordo plenamente com vc ao dizer sobre o romance ser inteiramente fechado em si mesmo!

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  2. Acabou a série Bate-papo? Estava tão bom...

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    1. De verdade mesmo eu nunca sei quando algo acabou, se acabou... Assim a priori, como decretar o final? Porém, se nunca mais retornar, lá no final, as mãos cheias de pó, direi: é o fim, era o fim. Mas, e o tempo inteiro em que esperei que retornasse? Que foi feito dele? Terá sido um tempo de nada? Digamos que a série está suspensa, nas suas características de eternamente temporária.

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