quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A ERA NADIR

O ex-vice comendo um porco. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr. http://brasileiros.com.br/2016/04/oposicao-ja-admite-compor-eventual-governo-temer/




- Bom dia, querido!

- Bom dia!

- Já chega de falar de política, não é mesmo? Ninguém aguenta mais isso. Que foi que deu no brasileiro? Esse povo tão alegre e festivo resolveu agora acompanhar os acontecimentos do mundo político! Que é, afinal, que essas coisas têm a ver com a vida do cidadão comum? Por que é que importam as ações desse governo que, de repente, aí está? 

- Não sei... É PEC, É MP... Acho que não têm nada a ver com a minha vida, não!

- Pois é! Vamos mudar de assunto, então! Qual o seu nome?

- Nadir.

- Ah, então você é o Nadir? Bom dia, querido Nadir! Ser tratado por querido é muito bom, não é mesmo?

- É, sim.

- Agora, por outro lado, já pensou, você acordar de manhã, abrir a janela, olhar para o outro lado da rua e ver escrito no muro "FORA NADIR"?

- Rs.

- Imagine se as pessoas, ao se encontrarem nas redes sociais e nos locais de trabalho, antes mesmo de se cumprimentarem, passassem a ter por hábito dizerem umas às outras "FORA NADIR"! 

- Rsrs.

- E toda vez que alguém fosse dar início a uma palestra ou a qualquer manifestação em público, diria assim: "Primeiramente, FORA NADIR". 

- Rsrsrs.

- Já imaginou pegar o carro, dar uma volta pelo bairro, depois pela cidade, e em quase todos os muros encontrar a inscrição "FORA NADIR"? Imagine só, as pessoas espalhando cartazes e bandeiras com seu nome estampado, e diante dele o "FORA"... "FORA NADIR". As pessoas promovendo festas com seu nome depois do "FORA", já pensou? Imagine então saber que cantores, bandas, corais, orquestras de todo o país estão gravando canções populares, heavy metal e sinfonias em que entoam a frase com seu nome: "FORA NADIR"! A Nona, de Beethoven, o Carmina Burana... Como num pesadelo, tudo clama, tudo grita: "FORA NADIR". Nos viadutos, nas pontes, nas pistas, nas placas... em todo canto um verdadeiro exorcismo em nível nacional: "FOOORA NADIR". O seu filho acorda de manhã, vai à escola e vê as pessoas com adesivos no peito em que figura o nome do pai: "FORA NADIR", "FORA NADIR", "FORA NADIR". Considere então chegar a um outro país e, como numa revelação confirmatória, ter o seu nome trocado, lá, pela pessoa que o recebe no aeroporto: "Welcome, Mr. FORA NADIR". E mesmo lá pequenas multidões passam diante de você carregando faixas de "FORA NADIR".

- Rsrsrsrs.

- Fique tranquilo que é só um pesadelo, do qual em breve você irá acordar. Afinal, que tipo de gente suportaria uma agonia tão lenta, ligada ao esfacelamento da identidade (afinal se trata do próprio nome), pela ideia de expulsão e escárnio expressa no "FORA"? Que tipo de interesse poderia mover alguém a aguentar a vivência cotidiana de tamanho horror ontológico, presente no suprassumo do indesejado, bem marcado no nome diante do seu: "FOOORA NADIR"?

- Rsrsrsrsrs.

- No futuro, os livros de História vão se referir a você como "Nadir, o Grande Traidor", ou simplesmente "Fora Nadir". Você será descrito como um canalha entre canalhas, quando valores como a lealdade tiverem restabelecido o seu sentido, depois de uma era de extrema depravação moral, individualismo doentio e limitação intelectual que terão levado o planeta ao esgotamento de muitos de seus recursos naturais e humanos - e que no Brasil ficou conhecida como a Era Nadir.

- Rsrsrsrsrsrs.

- Você ri? Acha graça? Jura mesmo que não se importa? Não parece uma reação normal. Você não é uma personagem verossímil. Procedi muito mal ao te criar. Sem qualquer sombra de dúvida. Você é um engodo, uma mácula, um erro que eu quero esquecer.

- Rsrsrsrsrsrsrs.

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