domingo, 26 de dezembro de 2010

Sobras

Quando criança, vivia num casebre onde funcionava uma espécie de internato interiorano. E era sempre o último a chegar, à noite, por isso não fazia as refeições à mesa, junto com os demais. Servia-se diretamente no fogão, onde ficavam, frias, as grandes panelas.

Naquela noite a mesa de madeira sustentava numa das cabeceiras uma florzinha roxa, murcha e enigmática.

Tendo chegado faminto, foi até o fogão e destampou a frigideira, pensando em aquecer o feijão. Lá estava a ratazana, afoita e barulhenta, devorando as sobras do jantar. Era tão grande e nojenta. A tampa mal parava sobre ela, devido ao seu movimento frenético. No mesmo instante foi entendendo em si certos sintomas até então inexplicáveis e descobriu-lhes, de repente, a causa: ele vinha, há tempos, comendo as sobras da ratazana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário