quarta-feira, 21 de julho de 2010

Insônia

Liu Bolin: Autorretrato número 5.


Depois de décadas lutando contra a insônia (expressão que por si só já demonstra um erro típico do insone crônico), descobri a sua cura e divido-a com vocês, meus queridos leitores, em primeiríssima mão: o caminho para uma noite muito bem dormida é: duas ou três noites sem dormir!

Desculpem-me pelo chiste os colegas insones - dirão que isso não é matéria com que se brinque, mas foi a solução a que cheguei: uma readministração da rotina sonífera, que inclui o largo aproveitamento psíquico das noites de sono - as que percebi que só chegam mesmo, para o insone, após os famigerados períodos de insônia.

Para estes, depois de verdadeiramente constatada a certeza de que naquela noite não se conciliará o sono, o único conselho possível - e já amplamente divulgado e posto em prática - é: a música, o cinema, a leitura, a culinária, a jardinagem, o sexo, a faxina no apartamento, o alimento do blog...

Porém, sempre que ouso me confessar insone, sinto-me um pouco farsante, o que se deve, talvez, ao fato de ser um assunto que toca, obviamente, em terrenos impalpáveis ou de fronteiras pouco prováveis, como o são o sono ou a inconsciência. Assim, depois de uma noite em claro ou simplesmente mal dormida, nunca tenho a plena certeza de que assim mesmo o foi... o quanto mais? o quanto menos? Essa mesma inconsistência percebo nos relatos de quase todos os insones com quem converso a respeito. Parece a mim que todos eles reforçam um pouco os sintomas, ampliam as horas de vigília etc.

Mas pode ser que seja justo o contrário: cansados, enganamo-nos acreditando que dormimos algumas horas, e no entanto trata-se precisamente de segundos... não sei.

Todavia, apesar dessas tergiversações, há receitas reais e simplíssimas que sempre surtiram em mim algum efeito. São quase todas de chás, portanto muito naturais e saudáveis, encontráveis no supermercado da esquina.

O chá de camomila, por exemplo, calmante potente, se tomado a partir do meio-dia garante uma noite de sono muito melhorada. Refiro-me ao que se compra em caixinhas, embalado em pacotes unitários. Se tivermos acesso à planta, então, é melhor que o tomemos somente algumas horas antes deitarmos, e em quantidades menores, com o risco de no dia seguinte perdermos a hora - sem qualquer exagero. Tanto faz se o preparamos com a camomila branca ou a italiana. E enquanto dormimos, um pouco amargados, é verdade, ainda "desopilamos o fígado", amanhecendo mesmo com fome. É excelente também para cólicas menstruais.

O delicioso chá de cidreira pode ser adoçado a gosto e nos induz, ao longo do tempo de uso, a um sono infantil, de sonhos coloridos... Em pequenas doses suaves pode ser oferecido também às crianças, que em geral não precisam dele.

O suco de maracujá, bem forte e com as sementes bastante trituradas, faz alguns delicados bocejarem somente com o seu aroma. Não vai aqui nenhuma anedota; trata-se de uma associação natural que comprova sua eficácia. O efeito às vezes é imediato, mas fica na dependência de um ambiente propício. O retorno a um trabalho frenético pode diluir em segundos a sua aura calmante - que no entanto retornará, naquele mesmo dia, em momento e lugar propícios.

A alface pode ser comida às baciadas, mas o bom mesmo é reservar o caule para bater, à noite, no liquidificador, apenas com água fria ou gelada. Em geral não é bom adoçar os chás amargos ou os líquidos de sabor não muito palatável, como é o caso deste, porque se o fizermos eles se tornam enjoativos, intragáveis. A alface, em doses concentradas, concede um sono pesado, do qual ainda restarão indícios no dia seguinte.

À exceção da camomila in natura, que pode nos deixar um pouco lerdos, e ao contrário dos venenos todos de laboratório, nenhum destes nos tira o apetite sexual, nos impede de guiar um carro etc.

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