quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Frankenstein (parte 2)


Tocou o interfone. No início do show do frankenstein. E se tivesse tocado trinta anos atrás, teria sido no máximo a campainha inventada por meu pai, uma geringonça pendurada no portão da frente e ligada por uma cordinha à porta do barraco de tábuas, também construído por ele, onde alguma coisa sonora, que não lembro o que era, anunciava a chegada do visitante. Rarán, agora já recebíamos visitas - quanto avanço! Tínhamos até uma kombi para os piqueniques em caçaroca e em muribeca, esses nomes deliciosos e cada vez mais raros, feitos de consoantes e vogais alternadas, algo que uma criança com ouvidos nunca esquece. A consoante era o trecho de terra sobre o qual se estendia a toalha para fazer o lanche; a vogal é um riacho que passa ali bem perto, sobre o qual o irmão mais velho vai cair, depois de ter se dependurado num cipó, sob a forte influência de Ron Ely, visto já com atraso na primeira televisão comprada pelo pai, no fim do ano. No meio disso tudo me parece incrível: primeiro: que papai e mamãe soubessem o que era um piquenique, já então assim nomeado; segundo: que tivéssemos os cabelos penteados, que andássemos sempre calçados e com roupas tão bonitas, costuradas por ela; terceiro: algo que por ora me parece inenarrável. Enfim, tocou a campainha...

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