quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Deus e o sal

Dê uma olhada nos nossos bairros pobres: a quantidade de crianças obesas é impressionante. É uma das provas mais patentes de que, no Brasil, nos últimos anos, o investimento em educação anda em desmesurado descompasso com a distribuição de renda.

Não adianta, a uma família que apenas deixa a linha de pobreza, poder comprar muito daquilo a que antes não tinha acesso. Se dentro e fora da escola não se disseminarem, a essa camada da população, informações básicas acerca de hábitos saudáveis de alimentação, os carrinhos, nos supermercados, continuarão se enchendo de refrigerantes e biscoitos recheados de gordura vegetal hidrogenada, colorida e aromatizada artificialmente.

Toda semana sou admoestada, pela cozinheira, a parar de comprar alimentos orgânicos, porque "essa cenourinha não tem gosto de nada". Mas é mentira. É a única cenoura que ainda guarda sabor de cenoura.

Houve uma babá que, aos sábados, trazia lagostas para preparar para os meus bebês. Bons tempos! Morava na colônia de pescadores perto daqui, e seu marido, por entre os peixes que pescava, sempre trazia uma quantidade de lagostas que não era interessante comercializar. Então, para não jogar fora... "Deus me livre, lá em casa, falar em preparar peixe ou lagosta! O meu filho mais novo só come mini chickens."

E o problema, obviamente, não termina aí. Bactérias, corticóides, sódio, corantes... Se o processo não se inicia na idade mais tenra, a partir de informações simples e realistas acerca do mundo que conhecemos e habitamos, fica difícil depois, na sua vida adulta, convencer as pessoas da existência de coisas invisíveis. O único ser invisível em que praticamente todos acreditam é Deus.

Acerca de Deus somos doutrinados desde que nascemos. Para convencer um filho a escovar os dentes é preciso convencê-lo da existência das cáries, mas sobre Deus, não. Deus é onipresente. E onisciente. Os nossos amados avós, mesmo analfabetos e com os dentes cariados, "temiam a Deus". E ai de quem usasse o seu santo nome em vão!

Mas o acidulante, não. E o sal? O sal parece tão inofensivo no seu natural brancor. É o sal da terra, "sem ele a comida não tem graça!". Fica ao sal, então, o segundo lugar no ranking da onipresença, seguido do açúcar. Mas não vá reclamar do excesso de sal usado na carne, no restaurante do seu Zé, porque ele simplesmente vai dar de ombros: "Mania desses natureba!"

4 comentários:

  1. Olá, Dudu. Como vai? Obrigada pela visita - e pelo comentário. Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom seu blog!
    Acho que esse vídeo do Tim Minchin cai muito bem no assunto:
    http://www.youtube.com/watch?v=d0xrwBePihg
    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pela leitura e pela dica. Um abraço.

    ResponderExcluir